O assunto pode parecer complexo e desinteressante, mas é fundamental compreender o que se passa à cabeceira da Grécia, se quisermos antever o que nos espera e perceber quem metemos na nossa cama.
Mais de 2/3 da dívida grega está nas mãos da Alemanha, da Holanda e da França.
Se a Grécia não conseguir reunir até Abril cerca de 23 mil milhões de euros, arrisca uma suspensão de pagamentos cujas vítimas serão em primeira linha os próprios gregos, mas que provocará muita dor e ranger de dentes naqueles outros países.
Ou a Europa mostra o que vale e avança com um plano credível e solidário para tratar o assunto, ou a Grécia pede ajuda ao FMI e resolve provisoriamente a situação à semelhança da Hungria que a enfrentou em Novembro de 2008 através de um "standby loan" que esvaziou a pressão dos mercados.
A política do megafone e da encenação visual, palmadinhas nas costas com discursos contraditórios, "ajudo mas não pago", que Merkel, Sarkozy, Junker e outros vêm protagonizando são afinal a demonstração do que vale a tal Europa: pouco ou nada.
Seja por cálculos mesquinhos (o FMI é dirigido por Stauss-Khan, provável adversário de Sarkozy nas próximas eleições presidenciais), seja por jogos de "trompe l'oeil' eleitorais (Merkel quer sossegar os bávaros e não só), seja por desconfianças sobre o que ainda está escondido, enfim, por isto ou por aquilo, diz-se uma coisa hoje diferente da de ontem, desdiz-se ao microfone o que se garantiu 'intra muros' e cava-se a confusão e o desnorte.
A nível interno, é patente que não temos nem Governo nem Ministro à altura da situação. O silêncio à volta do PEC, mais os apelos à união à volta do PEC, qual novo e "patriótico" orçamento, mais a convicção de que não somos gregos e de que a Europa há-de estar connosco, são a pomada de feira que está disponível mas que não nos vai safar da cirurgia pesada.
É importante acompanhar o caso grego para percebermos o quanto temos de mudar de médicos. E de abrir janelas, com euro ou sem euro, com PECs ou sem PECs, para encontrar um caminho, o nosso.
interessante e importante esta posta
ResponderEliminarBom post!
ResponderEliminarO curioso é que Portugal emitiu no passado dia 17 mil milhões de euros de dívida pública, tudo colocado, e com prazo de maturidade a um ano (18 de fevereiro de 2011). Como a União assegurou que deitava a mão à Grécia, o mercado acha que também deitará a Portugal...
Isto ainda vai acabar mal!...
Um abraço do
JAC
Não sei se a Grécia sofre exactamente do mesmo mal (pelo menos o nosso é estrutural e tem raíz cultural), mas os sintomas são idênticos. E idêntica sintomatologia reclama idêntico tratamento. Por isso que as acções/reacções externas à situação grega serão de facto um indicador se a coisa, por cá, poderá ir andando apenas com a habitual pomada de feira (+impostos, -pensões e -alguns investimentos), ou se se reclamará pelo acesso imediato ao bloco operatório (cortes reais e efectivos na despesa).
ResponderEliminarJá quanto à necessidade de, para tanto, mudar de médicos, tenho fortes dúvidas. É certo que os não temos à altura (e quanto à concorrência também estamos conversados) mas, vindo as indicações cirúrgicas de fora, por que não deixar com eles o trabalho sujo? E nesta matéria o trabalho em equipe (tipo bloco central) também não me convence. Antes pelo contrário...
Aguardemos pois pelo tão badalado PEC (Pomada Especial do Costume) e se as reacções externas não lhe imporão a sua reformulação para PEC (Procedimentos Externos de Cirurgia).
Cumprimentos,
farripas