A União Europeia festeja hoje os 50 anos do Tratado de Roma sem que exista consenso acerca da possibilidade do seu alargamento e sem que se saiba bem qual vai ser o futuro da Constituição Europeia ou da moeda comum. Diz-se que a Declaração de Berlim não se quer confrontar com questões fundamentais, e que é por isso que se limita a sublinhar a identidade cultural europeia e a torná-la matriz da ideia de Europa, o que talvez seja verdade. Talvez se trate apenas de uma forma de fugir aos problemas, e de os evitar, e pode ser que o denominador comum encontrado seja fraco ou escasso demais para se poder prosseguir numa lógica de união. Mas será que é assim? Será que a identidade cultural europeia de que fala este documento vale assim tão pouco? Ou será que chegou finalmente a hora de colocar as coisas no lugar, e de fazer justiça aos ensinamentos de Steiner quando afirmava, na sua “Ideia de Europa”, que se estava a correr um grande risco ao dar mais importância às preocupações com os factores económicos e políticos da união do que ao seu património de humanidade comum, já que por ali nunca se conseguiria o vínculo, o traço de ligação, ou simplesmente o entusiasmo necessário para fazer andar para a frente a visão da Europa, ou para lhe dar futuro? Há decerto problemas e questões práticas que têm que ser resolvidas, elas interferem com a própria sobrevivência da comunidade, mas não há dúvida de que o génio da Europa está noutro sítio, na natureza irrepetível e única das suas praças e dos seus cafés, nos acordes de Mozart ou de Bach, nas partituras de Schubert ou do imortal Beethoven, nos poemas de um Goethe, na obra de um Cervantes ou de um Brugel, na especificidade da sua paisagem, no sofrimento que lhe trouxeram duas guerras mundiais, que mais não foram que guerras civis europeias, no seu pensamento humanista, na sua religião e na sua consciência, na sua diversidade cultural e linguística. É por aí que anda a ideia fundamental de Europa, a ideia de Europa que a Declaração de Berlim parece quer reafirmar e preservar, e que se mantém, apesar de tantos outros desencontros, e de tão pouca "união".
paulinha,
ResponderEliminarquando escreveres estas coisas lindas, lembra-te de dizer:
estou a inspirar-me no steiner...
não te fica nada mal
E digo. Leia outra vez. A citação não era directa e não justificava aspas, mas percebe-se que a ideia é de Steiner.
ResponderEliminar"...mas não há dúvida de que o génio da Europa está noutro sítio, na natureza irrepetível e única das suas praças e dos seus cafés, nos acordes de Mozart ou de Bach, nas partituras de Schubert ou do imortal Beethoven, nos poemas de um Goethe, na obra de um Cervantes ou de um Brugel, na especificidade da sua paisagem, no sofrimento que lhe trouxeram duas guerras mundiais, que mais não foram que guerras civis europeias, no seu pensamento humanista, na sua religião e na sua consciência, na sua diversidade cultural e linguística. É por aí que anda a ideia fundamental de Europa..."
ResponderEliminarGeorge Steiner está mencionado no post original, sim senhor.
De qualquer modo, a ideia não é de Steiner. É a de qualquer europeu, limitando-se Steiner a ser um dos últimos a exprimi-la com alguma publicidade e a acrescentá-la da ideia de café.
O porblema da Europa, o grande problema da Europa, no entanto, não está na ideia estimável da Europa. Nem está sequer no economicismo certeiramente denunciado pela Doutora Paula Faria.
Está na ausência de uma vontade europeia de defender essa ideia.
É o que se deduz, quando se vêem europeus a defender a censura às caricaturas dinamarquesas, ou a suspensão de espectáculos musicais e teatrais, porque podem ferir a fina susceptibilidade dos radicais intolerantes que se assumem como inimigos da nossa ideia de liberdade.
O grande problema da Europa é pôr-se de cócoras diante de quem quer destruir os seus valores, achando sempre que compete à América - à América que despreza - a sua defesa.
meus caros
ResponderEliminaré tudo muito lindo mas a minha convicção é que tudo isto da europa (como tudo o mais) acaba por se reconduzir a questões de $$$$$$
essas histórias de cafés e tudo o mais são cantigas...
como diz o outro "AS ILUDENCIAS APARUDEM"
fvferreira
ResponderEliminarA frase é um primor e a alternativa apresentada é ainda melhor!
Assim avançamos!