segunda-feira, novembro 16, 2009

Baboseiras

Há um membro do gabinete do Presidente da Comissão Europeia que de vez em quando publica umas opiniões no "Diário Económico". Deve ser uma pessoa cheia de energia e ubiquidades pois afirma-se também como sendo professor universitário.

Na sua esporádica coluna, neste 16 de Novembro (lê-se aqui), protesta contra a ausência de Obama nas comemorações da queda do muro de Berlim. É uma opinião. Mas é sobretudo um pretexto para avançar com uma série de disparates que não podem ficar sem resposta. Ora vejamos:

a) Diz que o Reino Unido e a França, juntamente com os Estados-Unidos e a União Soviética, "desempenharam um papel central em todo o processo de reunificação". Trata-se de uma rematada falsidade, pois é matéria hoje em dia bem documentada que tanto a Sra. Tachter como o Sr. Mitterrand puseram todos os pauzinhos possíveis na roda da reunificação, que eles não queriam e de que desconfiavam. Admitamos que é a juventude do colunista que o leva a desconhecer o que se passou verdadeiramente na época.

b) Diz que a Europa "é um parceiro indispensável para os Estados-Unidos", como o prova o facto de por exemplo Portugal ter mais tropas no Afeganistão que a China. Eu não sei que aulas dá este jovem senhor e em que Universidade, mas talvez uma alma caridosa lhe possa explicar o que é a Nato e já agora outras coisas elementares como explicar-lhe que não foram os europeus que ajudaram os americanos na Bósnia e no Kosovo como diz, mas foram aqueles que nos vieram desenrascar quando foi evidente que não tínhamos dentes para aquele bife.

c) Enfim, ele vê o mundo pelos óculos dele mas há ali diopterias a precisar de novas lentes pois há algo de errado se ele pensa que são os europeus que fazem o favor de dar uma mãozinha aos americanos na desnuclearização do Irão, pois somos nós os primeiros interessados, apesar de impotentes, em que Teerão nunca tenha um balázio nuclear que nos aterre na testa. Por isso nos agarramos, nesse particular, às calças do Obama, e não o inverso.

Talvez seja tempo de o Almeida repensar ideias como "o declínio da Europa": é que esse declínio é uma evidência e não vale a pena ele pôr-se em bicos de pés lá no gabinete do presidente Barroso a repetir o contrário, pois não vão ser essas baboseiras que farão a Terra rodar em sentido inverso. E, por favor, dê as aulas que quiser ou que lhe pagarem na Universidade das Novas Oportunidades mas deixe as coisas sérias para quem sabe delas.

10 comentários:

  1. O artigo é efectivamente uma cretinice do princípio ao fim. Outro aspecto: a crítica à ausência de intervenção da China no Afeganistão revela um completo desconhecimento da política externa chinesa, o que seria inaceitável para um professor universitário. Já para um membro do gabinete do Presidente da CE, é perfeitamente aceitável, o que leva a crer que o Almeida encontrou ali a sua verdadeira vocação. Esperemos que lá se conserve por muitos anos, e que não se lembrem de o pôr a fazer estragos noutro lado qualquer.

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  2. enfim, um verdadeiro almeida este Almeida do Gabinete DB!!!!
    Terá sido já almeida no Instituto de Defesa Nacional, dizem!
    Ainda o contratam para o pelouro da limpeza na Câmara Municipal do Porto!!!!

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  3. Desculpe lá ó amigo Pirolas, mas no Porto já temos lixo que chegue

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  4. Eu vou um pouquinho mais longe (e se calhar até sem humor...). O Professor Universitário e Membro do Gabinete do Presidente Barroso faz uma insinuação que me deixa de boca aberta. Diz ele: "Pela sua experiência de vida e pela sua educação, compreende-se que a Europa não tenha um significado especial para Obama." Entendo eu (mas como não costumo escrever crónicas para jornais posso estar enganado) que o autor Professor Universitário se refere à experiência e educação de Obama, não é verdade? Ora, será minimamente aceitável que alguém que se identifica como membro do Gabinete Barroso profira um tal insulto? Por outras palavras, será que eu (vamos imaginar, funcionário da CE, DG XYZ) também posso dizer tudo o que me apetece àcerca de um dirigente de um país e ainda por cima identificar-me como membro da instituição. E, segundo creio, o autor Professor Universitário intitula-se especialista em política internacional... Com conselheiros assim a segunda presidência anuncia-se especial... Ou será que este "Membro" não vai ser reconduzido?

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  5. Pois Joaquim, a sua (dele) experiência de vida e educação devem promover tais despautérios!!!
    Oh Douro, era só pra compor o ramalhete! Tá bem... na Câmara da Amadora!

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  6. Constou-me que as Berlengas lançaram uma campanha "Berlenga limpa". Entre a Amadora e a Berlenga, talvez não fosse má ideia mandar limpar os cócós de pássaro daqueles ilhéus. Com a vantagem de que ficava tudo entre passarões

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  7. Não se esqueçam que o Almeida em causa, foi indigitado para substituir no IDN o General Garcia Leandro, quando o DB era 1º e o PP era MDN. Também há favores a incompetentes do outro lado do "muro".
    Que pena
    ACF

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  8. Que pena o quê?
    - ter sido presidente do IDN; ou
    - ter ido para o gabinet do DB? ou
    - que haja incompetentes no grupo dos favorecidos?

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  9. Então a coisa explica-se: o Instituto de Defesa Nacional deve ter percebido ao ler as colunas dele que era melhor exportà-lo e o gabinete do Barroso deve ter concluido que ali ficava bem integrado. Tenho pena é dos alunos, se é que `também dà aulas ao fim-de-semana; se calhar, é por fax.

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  10. Douro, pequena correcção ao tag anterior: ao fim de semana não dá aulas! Há o "surf" com primazia. Não é por acaso que aqui no burgo (13°) se fala do "surfista"...

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