quarta-feira, outubro 01, 2008

Formalidade e informalidade

Por causa da atribuição de casas a "conhecidos" dos executivos camarários, dei por mim a reflectir no seguinte. Uma das características das economias desenvolvidas é a sua "formalização", isto é, as transacções económicas obedecem a regras que são conhecidas, claras e iguais para todos.

Pelo que sabe destes casos das casas das câmaras, não era isso o que sucedia. Nem havia regras, nem eram conhecidas de todos, nem muito menos eram claras ou iguais para todos. Na verdade, o que havia era um "sistema" conhecido apenas de alguns e que beneficiava apenas quem dele tinha conhecimento, não se sabe muito bem porque razões ou porque critérios.

Este sistema não é, por conseguinte, muito diferente do vulgar sistema das "cunhas" a que recorre quem pode, sempre que necessita ou quando é oportuno.

E este é que é o verdadeiro problema do sistema. Nem todos podem, nem a maioria tem acesso.

De facto, esta informalidade é reserva especial de uns quantos. Com responsabilidades particulares para aqueles que são, ou foram, eleitos. Não é ético usar os poderes públicos decorrentes dos cargos que se ocupa para beneficiar conhecidos, pelo facto de serem conhecidos. Sejam eles artistas, empregados ou quaisquer outros. Este tipo de informalidade é um sinal de feudalismo (dependências pessoais, em última análise). E é também a principal fonte da descrença colectiva na democracia, nos partidos e nos políticos.

Numa sociedade que se quer formalizada, no sentido apontado, isto tem que acabar. Tem que se conhecer os responsáveis, apurar as suas responsabilidades, denunciá-las e puni-las quando for caso disso. Esta sindicância tem de acontecer a tempo das próximas eleições. Doa a quem doer, sob pena de se matar a "igualdade perante a lei", pilar fundamental das democracias ocidentais.

É possível um Portugal melhor. Basta querer.

2 comentários:

  1. "...o verdadeiro problema do sistema" é o de que nem todos podem, é o de que a maioria não pode? Curiosa maneira de formular a 'coisa'! Se a maioria puder, a minoria que não pode que se lixe?

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  2. Caro Douro,

    Se ler com cuidado o que escrevi, verá que não foi isso que eu disse. O que ali disse é que "o verdadeiro problema do sistema" é o "vulgar sistema das cunhas a que recorre quem pode, sempre que necessita ou quando é oportuno".

    Só depois acrescentei, "nem todos podem, nem a maioria tem acesso".

    Quero com isso dizer, entre outras coisas, que o sistema afasta a maioria das soluções que preconiza, precisamente porque a sua efectivação depende da cunha.

    Nada disto tem a ver com defender o acesso de maiorias que afastem quaisquer minorias.

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