Secundando a sábia conclusão de JPP direi: não sei se será a esperança da Direita ou a força galvanizadora para todo o arco da cena política... mas, uma coisa é certa, assume, na actualidade, foros de uma premente inevitabilidade. Como aqui já referi por diversas vezes, a direcção em que estamos todos a ser levados é a de uma sociedade altamente competitiva, com poucos valores paradigmáticos. Ou seja, assiste-se à volatilização do “ethos” social.
Tal evolução é mais que uma constatação, é o devir natural e consequente da crise de valores do mundo ocidental e da sua concomitante desorientação.
Todo este quadro é coadjuvado pela particular situação da economia mundial. Os países emergentes, usam métodos e meios que estão muito para além das censuras próprias da consciência ética e social ocidental. O que, coadjuvado com a vantagem da actuação num quadro supra estadual, arrisca a descambar em procedimentos maquiavelicos, onde a “razão de estado”, é a única e “legítima” “Razão”.
Avizinham-se, por isso, alterações dramáticas ao status quo e equilíbrio global das forças geo-políticas.
A transposição desta realidade da cena internacional para a interna (estadual) é mais um recurso retórico do que uma realidade. Uma vez que tal transposição não é um processo consequente e decorrente do primeiro, mas, antes, simultâneo.
A crise do welfare state, acondicionará no seu núcleo, o esquecimento de muitos dos sacrossantos princípios herdados do jacobinismo socializante. Por exemplo, vemos tentativas tíbias, materializadas em certas reformas, como sejam a dos sistemas de segurança social, dos sistemas tendencialmente gratuitos de saúde e de educação, que na sua premente necessidade, demonstram a particular dificuldade em adequá-las aos novos tempos. Tais modelos comportam grande desperdício de meios, leia-se verbas. E, por isso, acarretam uma desajustada perda de competitividade. Ou seja, de sucesso.
Daí o confronto, inevitável, dos novos ventos com os valores da Esquerda, agora tida como serôdia e mirrada. Valores esses para ela inderrogáveis e inultrapassáveis. Donde, todas as pseudo-reformas que o Estado tenta viabilizar não são mais do que uma mera insistência nesses valores já arcaicos. E que, assim, não deixam de radicar, no âmago mais íntimo dessas reformas, por muito transmutadas que possam parecer.
Por outro lado, uma perspectiva livre dos vícios do passado e do tributo socialista, não pode comportar, ínsita em si própria, um verdadeiro "não modelo" de organização sócio-económica. Deixado ao livre critério do jogo das forças fácticas da sociedade. Cumprindo, em ultima ratio, um paradigma “hobbesiano”.
Recuso-me a aceitar uma tal fatalidade.
Dever-se-á, pois, olhar para o novo quadro de referências, não com o espírito céptico de velhos do Restelo, mas antes com a esperança de um abertura a novas solicitações. E sobretudo a novas soluções. Nunca como hoje a “imaginação” a originalidade foram tão válidas e, por tudo, tão necessárias.
Há que vislumbrar novas pontes, novas perguntas com repostas ainda mais engenhosas, para (re)criar um modelo. E, assim, logrando-se que a lei do mais forte não seja mais do que uma mera excepção que comprova a regra. O darwinismo dos povos e das nações e, sobretudo, dos cidadãos do Mundo, não pode ser uma bitola instalada e inevitável.
Há valores universais, comuns, e com relações de reciprocidade entre as culturas dominantes. Será precisamente, o indivíduo, a pessoa – vista também dentro do quadro clássico liberal - quem irá enxotar os riscos e reformular os arquétipos de uma nova organização sócio-económica. Onde se promovam e nutram os valores da solidariedade social. E já se vêm sinais muito concretos, dos quais, exemplo lapidar foi o contributo multimilionário de Warren Buffett para a não menos milionária Fundação de Bill Gates, de apoio ao desenvolvimento.
Como já se adivinha, dentro deste quadro em que a auto-regulação será o vector principal, a esperança do acolhimento de modelos solidários, reside, desde logo, no fomento do valor da pessoa humana. Enquanto actor singular na sociedade e no Mundo. Daí que só dentro do quadro de verdadeiras democracias se possa cumprir o papel deste novo homem solícito, voluntarioso, cúmplice com os outros : o "homo solidarius". Assume, assim, importância vital e central o conceito de Participação, enquanto princípio de acção do indivíduo na realidade. Pois só, desta forma, se criarão as imprescindíveis sinergias para que um tal desiderato seja alcançado e se consiga uma mudança consciente, prudente, profícua e virtuosa de paradigma.
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