quarta-feira, junho 01, 2005

A perversidade do não

Acabamos de saber que o referendo nos Países Baixos, apesar de meramente consultivo, teve um resultado esmagador: 60% de nãos. As visões catastrofistas, os velhos do Restelo, far-se-ão ouvir com mais força. As extremas, direita e esquerda, vêm nestes resultados um verdadeiro maná para difundirem o seu azedume contra a União Europeia. Ora por razões integralistas de defesa de uma soberania serôdia, por complexos xenófobos, seja por uma pretensa defesa do modelo social europeu, seja contra o liberalismo desenfreado e porque não dizê-lo – não tenhamos medo das palavras – do capitalismo, há uma miríade de causas de justificação do euro-cepticismo.
Mas eis que aqui, se revela, a perversidade do voto "non". É que atrás dele, subjaz, não um euro-cepticismo mas uma euro-fobia larvar. A mensagem que perpassa não é a do "não" ao Tratado objecto do referendo, mas um "não" à própria construção europeia. Por muito que sejam várias as motivações do "sim" são muito mais próximas e coerentes do que as do "não". O arco argumentativo do "não" vai desde os que rejeitam qualquer ideia de Europa até àqueles que, pura e simplesmente, duvidam do teor do Tratado e pretendem repensá-lo.
Acresce que, como é sobejamente sabido, as razões imanentes aos resultados dos nãos francês e holandês, são contra a situação social e económica actual. Contra os "canalizadores polacos", contra a Turquia ou as t-shirts chinesas. E olvidam-se as grandes virtudes do Tratado e esquecem-se as consequências, aos mais diversos níveis, de um arrepiar caminho na construção europeia.
Uma coisa é votar contra este Tratado outra é votar contar o "status quo", contra a directiva Bolkestein, contra a falência do modelo social europeu, contra o novos alargamentos.
Esperemos que o bom senso e sageza imperem. E que não se adie a construção de uma Europa que retalhada, não constituirá obstáculo à velocidade e voracidade depredadora das grandes economias mundiais, a China, a Índia, o Japão e os E.U.A..
Este capcioso “não” augura uma época de indefinição e incerteza. Se a velha Europa não realizar o seu estado, acaba ainda raptada por um qualquer Zeus disfarçado de dócil touro…! Que, ao menos, a sensatez nos valha.

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