quinta-feira, maio 05, 2005

O Tratado Constitucional da União Europeia III

O plano do simbólico é absolutamente estruturante do real. Não será preciso citar Jung, para dizer que, na verdade, o homem é um animal de símbolos. A própria linguagem é formatada por sons que, unidos, se revelam simbólicos e traduzem uma manifestação de vontade, um sentimento, etc. Os símbolos reconduzem-nos aos arquétipos últimos, são as pedras angulares da nossa existência. Os limites que nos tolhem, as nossas próprias limitações, isto é as nossa referências. Numa palavra o mínimo denominador comum do quotidiano.
Desvalorizar, por isso, a parte que está para além do visível, da espuma dos dias, é esquecer as coisas imanentes e imersas. A verdade nas aparências.
Ora, tudo isto parece a despropósito do Tratado Constitucional Europeu . Puro engano. Colhe na perfeição. De facto, a questão da tradição judaico-cristã, é fracturante porque estruturante da própria ideia de Europa, a par do legado greco-romano. Veja-se isto a propósito disto. É absolutamente incontornável, e já muita tinta correu sobre este assunto, que a tradição cristã é um pilar estrutural da construção europeia. Querer fazer do século das Luzes a emancipação do passado cristão, é querer renegar as origens. Comportamento que só se percebe pelo estado adolescente em que a Europa se encontra, e, como tal, de subversão dos seus valores.
Iria até mais longe :parece haver um infantil complexo de Édipo para com o Cristianismo.
Todavia, no ponto a que chegamos, deparam-se-nos diversos cenários. E a única certeza que temos é a própria incerteza dos tempos que se avizinham.
Há que escolher o essencial, há que fazer concessões hoje para colher frutos amanhã.
Por muito que discorde do preâmbulo da Constituição, por muitas reticências que a nova arquitectura institucional europeia nos levante, o certo é que o caminho para a construção do nosso espaço continental comum de afirmação Mundial, só é possível com um sim. Nos dias que correm, vertiginosamente, temos potências emergentes que dentro em poucos anos se propõem ultrapassar-nos. Começamos a sentir os efeitos do perigo amarelo, já conhecíamos os dragões asiáticos, virão mais acutilantemente a Índia e a América do Sul. Como já alguém disse, eles andam por aí. O nosso projecto comum não pode dar-se ao luxo de esbanjar oportunidades, muito menos tempo.
Acresce que para um país como o nosso, uma economia aberta altamente dependente das flutuações do mercado externo, não temos vantagem em ficarmos "orgulhosamente sós" - longe vão os dias do Império. Uma participação activa e um aprofundamento na União Europeia são um garante de que a nossa voz será sempre respeitada. Países como o Luxemburgo, a Irlanda ou a Bélgica - países pequenos e médios dentro da Europa, têm uma visibilidade e um peso muito superior à sua real dimensão quer geográfica quer demográfica ou, porque não, económica. Portugal só tem a ganhar com uma integração mais profunda. Se por um lado perde alguma soberania - o que será a verdadeira Soberania num Mundo globalizado como o de hoje? - ganha com o reconhecimento formal do seu lugar na Europa. E prova disso é o prestígio que o país granjeou desde a sua entrada na pretérita C.E.E.. Estar dentro e à frente da construção europeia é reclamar um protagonismo do qual só poderemos retirar bons e profícuos dividendos. Um sim ao tratado não é uma mera opção ideológica. É uma questão de sobrevivência...e, já agora, de inteligência.

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