Mostrar mensagens com a etiqueta morte. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta morte. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, junho 30, 2009

Pina Bausch 1940-2009



Qualquer coisa que se possa dizer da morte de alguém aproxima-se quase sempre da banalidade, mas a falta de memória e de lembrança das pessoas e da sua obra também é seguramente imperdoável. Com a morte de Pina Bausch é mais um grande talento que se perde. Apetece-me citar o Valter Hugo Mãe no casa de osso: "A Pina Bausch, caramba, a Pina Bausch"!

quarta-feira, dezembro 10, 2008

Alçada Baptista

O João já escreveu sobre a morte de Alçada Baptista, e eu devia ter vergonha de estar tanto tempo sem escrever no Nortadas e de vir falar de um tema repetido. No entanto, não podia deixar de lembrar Alçada Baptista porque ele foi (e é) um dos meus autores portugueses preferidos. Pus-me a pensar porquê, e disse a mim própria que isso não era muito importante. Era, porque sim. Mas alguma justificação se tem que dar para as coisas, quando elas têm justificação, e neste caso ela existe, e eu sei-a de cor. Alçada Baptista escrevia de forma humana, falava de afectos, de complicações da alma, da ligação aos nossos e às casas de onde vimos, de trajectos de vida difíceis, colocava no papel as interrogações que nos afligem a todos, mas que nem todos os escritores sabem dizer da forma como o comum dos mortais as diz, e não ocultava a melancolia que a maior dos portugueses traz consigo desde sempre, e que por mais lavagens de cultura e vernizes de internacionalização que leve, há de ser sempre marca sua. Por isso, a sua escrita dizia tanto a quem o lia e era tão facilmente reconhecível. Alçada Baptista diz no Riso de Deus que “A letra de Deus nem sempre é decifrável, e que ninguém conhece a língua em que escreveu a alma humana”. Pois eu acho que embora isso seja uma verdade indesmentível, há sempre quem ande mais perto de a conhecer. E Alçada Baptista conhecia bem a alma humana.

sábado, abril 14, 2007

As melhoras, António Lobo Antunes!

Sem querer parecer “lamechas”, tenho de confessar à comunidade Nortadas que não fiquei indiferente à “Crónica do Hospital” que António Lobo Antunes escreveu para a Sábado.

A António Lobo Antunes foi detectado um problema oncológico. Está internado, a recuperar de uma operação cirúrgica.

Passa-se comigo aquilo que certamente se passa com mais pessoas: há escritores que nunca vimos, e parece que os conhecemos, profunda e intimamente, como se fossemos amigos. Como se fossemos reciprocamente amigos, e amigos de toda a vida. Tudo através da empatia que os bons livros conseguem criar com o leitor.

A Crónica do Hospital é pois uma conversa com um grande amigo. Uma conversa de grande franqueza e abertura, que exprime de forma emocionada e sincera os medos de um amigo que encara a morte. E a uma conversa destas nenhum amigo fica indiferente…

Um grande abraço, António, e as melhoras!

quarta-feira, março 07, 2007

Genpet da espécie suína

Matança do porco, José Mexia!? Os porcos ainda morrem? Ainda há porcos? Na minha infância havia. E vacas torinas que davam leite inteiro, com gordura amarela à tona, e coelhos e galinhas, e cães a sério, que não eram bichos de sofá, que não andavam ao colo em pequenos, não fosse dar-se o caso de ficarem estragados e não poderem mais guardar a terra à noite, e abelhas em cortiços, que às vezes lá fugiam, e atacavam os braços e as pernas mais desguarnecidas, que inchavam, e ficavam redondas, a justificar uma ida à farmácia, isso quando havia tempo, e o inchaço não se mantinha numa dimensão tolerável segundo o prognóstico crítico, e normalmente desprendido, dos familiares mais próximos (isso não é nada, menina!). Esses animais morriam. Morriam de forma cruel, aos olhos das crianças, que ninguém se dava ao trabalho de ocultar o que era da natureza, sem honras funerárias de maior, nem actos de contrição dos carcereiros. De vez em quando, lá se via um coelho morto pendurado numa árvore, que ficava sem pele aos puxões, ou de uma vez só, tanto fazia, ou eram dizimadas umas quantas galinhas, que aí ninguém se importava muito, que bicho mais estúpido nunca se viu, sempre presas na sua rotina diária de pica no chão ( já que Deus, se calhar felizmente, não dá a todos os seres vontade de olhar para o céu) ou apareciam uns tantos tordos esventrados pela pontaria dos caçadores. Havia morte, e a necessidade de olhar para ela. Também era um exagero, convenhamos. Mas agora, será que os porcos ainda morrem? Será que ainda se permite um acto tão incómodo, inestético e impossível de normalizar? Será que, sem nos darmos conta, o porco não foi convertido num código de barras com vidas de reserva como no game boy? Estou em crer que já não há porcos. O porco passou a ser uma realidade virtual. Ou melhor ainda. Um genpet da espécie suína.