quarta-feira, dezembro 10, 2008

Alçada Baptista

O João já escreveu sobre a morte de Alçada Baptista, e eu devia ter vergonha de estar tanto tempo sem escrever no Nortadas e de vir falar de um tema repetido. No entanto, não podia deixar de lembrar Alçada Baptista porque ele foi (e é) um dos meus autores portugueses preferidos. Pus-me a pensar porquê, e disse a mim própria que isso não era muito importante. Era, porque sim. Mas alguma justificação se tem que dar para as coisas, quando elas têm justificação, e neste caso ela existe, e eu sei-a de cor. Alçada Baptista escrevia de forma humana, falava de afectos, de complicações da alma, da ligação aos nossos e às casas de onde vimos, de trajectos de vida difíceis, colocava no papel as interrogações que nos afligem a todos, mas que nem todos os escritores sabem dizer da forma como o comum dos mortais as diz, e não ocultava a melancolia que a maior dos portugueses traz consigo desde sempre, e que por mais lavagens de cultura e vernizes de internacionalização que leve, há de ser sempre marca sua. Por isso, a sua escrita dizia tanto a quem o lia e era tão facilmente reconhecível. Alçada Baptista diz no Riso de Deus que “A letra de Deus nem sempre é decifrável, e que ninguém conhece a língua em que escreveu a alma humana”. Pois eu acho que embora isso seja uma verdade indesmentível, há sempre quem ande mais perto de a conhecer. E Alçada Baptista conhecia bem a alma humana.

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