Portugal teve as
suas épocas áureas em que o país se enriqueceu e se equipou do ponto de vista
cultural e artístico com o que de melhor se produzia cá e no estrangeiro. Mas o
país foi ciclicamente pilhado por gente de dentro e de fora, quando não destruído
por catástrofes naturais como o terramoto de 1755.
Um dos climaxes
da pilhagem foi a saída de Junot que, a coberto de uma vergonhosa convenção
apadrinhada pelos ingleses, levou centenas de carroças apinhadas de mobílias,
bibliotecas, quadros, pratas, porcelanas, etc. Posteriormente, o taticismo
militar do Duque de Wellington aquando da terceira invasão francesa pelas
tropas de Massena queimou metade do país. Uns e outros roubaram ou destruiram o
que de valor havia nas terras por onde passavam.
O cerco do Porto
e as lutas fraticidas que se seguiram durante o liberalismo prolongou a
devastação do património artístico nacional, com especial destaque para a região
norte, tantas vezes abandonada ao pior banditismo e já então ao suganço de um
centralismo crescente que importava os salvados para os palácios da capital.
Fialho d’Almeida denunciava
veementemente nos “Gatos” em finais do séc. XIX a indiferença política do Estado
perante o objecto de arte, quando não era esse mesmo Estado, através da corte
ou dos seus agentes, que participava alegremente na espoliação dos bens da nação
desviando-os para salões particulares ou desbaratando-os juntos de intermediários
de museus estrangeiros que funcionavam mais como larápios do que como amantes
de arte. A este propósito, ficou na memória
o testamento vergonhoso de D. Fernando, viúvo de D. Maria II, a favor de uma
ex-cantora de ópera, mais tarde condessa d’Edla, e no qual incluia ou pretendia
incluir bens da coroa e da nação, tais como o Castelo da Pena e o seu recheio para
além de tantos pertences do Palácio das Necessidades.
No período em que
se encerravam conventos aos seis ou oito por ano, foi um ver-se-te-avias pelas
portas do fundo, a esvaziar os edifícios com a conivência de colegiadas e
abadessas, lá ficando apenas algum penico rachado ou tapete esburacado. Registe-se
que entre os mais aplicados da matilha estavam os próprios membros das juntas
inventariantes que não perdiam a oportunidade de se servirem antes de fazerem
uma lista pobre. Um regabofe!
Conclusão: o país
não tem um museu decente de artes decorativas a não ser o Museu das Janelas
Verdes (Arte Antiga; Lisboa) e, no Porto, uma ou duas salas tristes no Soares
dos Reis.
Voltaremos para
ver mais de perto este Museu Soares dos Reis, que sendo nacional mas sediado no
Porto, é a meu ver revelador de uma visão empobrecida, senão provinciana, de um
centralismo cultural que não deixa de ser indigente. A cidade do Porto talvez tenha
uma palavra a dizer sobre o assunto.
Caro Douro Fico muito satisfeito com esta sua proposta de valorizar o Museu Soares dos Reis quanto às artes decorativas.
ResponderEliminarAcho, no entanto, que a questão não é de "ter palavras a dizer", mas "obras de arte a mostrar".
Será que conseguem ter criatividade ou mais uma vez as palavras são apenas para pedir euros à capital?
Pena terem construído um "caixote" para ampliar o Museu "assassinando" literalmente o Real Velo Clube que ainda se encontra quase intacto nas traseiras do Museu e que deveria por lei ser preservado! Mais uma vez o IPPAR anda a dormir na forma...
ResponderEliminarhttps://www.google.com/maps/@41.1484507,-8.6215797,271m/data=!3m1!1e3?hl=en-US