quarta-feira, outubro 29, 2014

Questões de toponímia: Abaixo os Cabrais!


Se bem percebi, a actual Câmara do Porto decidiu reexaminar a questão de vir a dar o nome de José Saramago, o único Nobel português de literatura, a uma rua ou praça da cidade. Acho muito bem. Nestas coisas da toponímia há que pôr as simpatias e antipatias de lado e agarrarmo-nos a dados objectivos. Por muito que me possa incomodar a pessoa em si, reconheço no autor do “Memorial do Convento” um dos nossos maiores da língua portuguesa e o merecido galardoado do mais importante prémio da literatura mundial.

Mais a mais numa cidade que baptizou algumas das suas ruas com nomes da mais escassa honradez e da mais flagrante desonestidade. Um desses nomes é Costa Cabral.

António Bernardo da Costa Cabral terá sido sem dúvida um político marcante do liberalismo na primeira metade do século XIX mas poucos terão sido tão corruptos e trauliteiros como ele. Homem de uma ambição desmedida, assumiu todas as posturas, por mais contraditórias, que lhe fossem permitindo alcandorar-se ao poder. Ali chegado, e com a protecção de uma rainha D. Maria II complacente a ponto de constar uma relação equívoca entre os dois, locupletou-se a seu belo prazer com os dinheiros públicos fazendo sua a receita de impostos que criou e obrigando empresas públicas e privadas a oferecerem-lhe fortunas ( só entre 1842 e 1845 arrecadou para o seu património pessoal 15% da receita pública anual), tendo-se transformado em poucos anos num dos homens mais ricos de Portugal .

Costa Cabral cometeu e fez cometer todo o tipo de fraudes, falsificou resultados eleitorais, roubou, violentou a nação, fez-se conde e depois marquês, arbabatou-se com o Convento de Tomar, perseguiu e censurou, lançou o país numa guerra civil destruidora de tanta gente e de tanta riqueza, foi um verdadeiro campeão do nepotismo e da arbitrariedade, enfim, deixou o país na miséria e no caos.

Como dizia alguém seu contemporâneo, “ninguém lhe pode apertar a mão sem corar de vergonha”. Este homem esperto, alguns diriam brilhante, de uma vivacidade invulgar e de uma brutalidade única, que veio a morrer no Porto, mais precisamente na Foz do Douro, era afinal e apenas um ladrão e um cacique de baixo estofo.
Por isso atrevo-me a afirmar que a cidade do Porto não precisava deste insulto de dar a uma das suas vias mais importantes o nome de um desavergonhado perigoso e que este caso assenta em factos suficientes para que os serviços de toponímia da Câmara revejam a história e nos limpem desta desconsideração.


Abaixo o cabralismo! Mil vezes um Saramago!

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