Se bem percebi, a
actual Câmara do Porto decidiu reexaminar a questão de vir a dar o nome de José
Saramago, o único Nobel português de literatura, a uma rua ou praça da cidade.
Acho muito bem. Nestas coisas da toponímia há que pôr as simpatias e antipatias
de lado e agarrarmo-nos a dados objectivos. Por muito que me possa incomodar a
pessoa em si, reconheço no autor do “Memorial do Convento” um dos nossos
maiores da língua portuguesa e o merecido galardoado do mais importante prémio
da literatura mundial.
Mais a mais numa
cidade que baptizou algumas das suas ruas com nomes da mais escassa honradez e da mais flagrante desonestidade. Um desses nomes é Costa Cabral.
António Bernardo
da Costa Cabral terá sido sem dúvida um político marcante do liberalismo na
primeira metade do século XIX mas poucos terão sido tão corruptos e
trauliteiros como ele. Homem de uma ambição desmedida, assumiu todas as
posturas, por mais contraditórias, que lhe fossem permitindo alcandorar-se ao
poder. Ali chegado, e com a protecção de uma rainha D. Maria II complacente a
ponto de constar uma relação equívoca entre os dois, locupletou-se a seu belo
prazer com os dinheiros públicos fazendo sua a receita de impostos que criou e
obrigando empresas públicas e privadas a oferecerem-lhe fortunas ( só entre
1842 e 1845 arrecadou para o seu património pessoal 15% da receita pública
anual), tendo-se transformado em poucos anos num dos homens mais ricos de
Portugal .
Costa Cabral cometeu
e fez cometer todo o tipo de fraudes, falsificou resultados eleitorais, roubou,
violentou a nação, fez-se conde e depois marquês, arbabatou-se com o Convento
de Tomar, perseguiu e censurou, lançou o país numa guerra civil destruidora de
tanta gente e de tanta riqueza, foi um verdadeiro campeão do nepotismo e da
arbitrariedade, enfim, deixou o país na miséria e no caos.
Como dizia alguém
seu contemporâneo, “ninguém lhe pode apertar a mão sem corar de vergonha”. Este
homem esperto, alguns diriam brilhante, de uma vivacidade invulgar e de uma
brutalidade única, que veio a morrer no Porto, mais precisamente na Foz do
Douro, era afinal e apenas um ladrão e um cacique de baixo estofo.
Por isso
atrevo-me a afirmar que a cidade do Porto não precisava deste insulto de dar a
uma das suas vias mais importantes o nome de um desavergonhado perigoso e que
este caso assenta em factos suficientes para que os serviços de toponímia da
Câmara revejam a história e nos limpem desta desconsideração.
Abaixo o
cabralismo! Mil vezes um Saramago!
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