sexta-feira, outubro 24, 2014

O orçamento hermafrodita


Amanhã, Sábado 25, reune-se a Comissão Política Nacional do CDS.
Consta que é para analisarem a proposta de orçamento já aprovada pelo governo de que aliás fazem parte. Assim sendo, o que vão lá fazer os comissários que aparecerem? Provavelmente debitar umas vacuidades do género “podia ser pior” ou “é melhor alguma coisa do que nada”.

Não há novidade nisto. O partido do irrevogável já nos habituou ao pisca-pisca que aponta para o lado contrário daquele para onde vira. O vermelho das linhas inultrapassáveis desbotou e fica-se pelo discurso do soldadinho disciplinado que mete a viola no saco depois de cantar um fado corridinho nas tabernas do bairro. Ou então encenam o “agarrem-me que senão eu bato-lhe”, pensando que o pagode vibra com o melodrama e não se dando conta do enorme e irónico bocejo que percorre toda a plateia.


Esta história do “Quem? Eu? Foi o outro” já cansa. E entretanto servem de colchão a este orçamento hermafrodita, excitados com a dupla sexualidade do bicho, uma confusão de tira aqui e põe ali, e ora diga lá onde está a bolinha escondida, debaixo de que copo. O apostador perde sempre, claro. O apostador somos nós, cidadãos aparvalhados com aquele jogo de mãos, crédulos na primeira impressão e desprevenidos, a tirar conclusões antes de bem verificar os dois lados da questão.

 É macho ou fêmea? Nem um nem outro: é hermafrodita. Irra! E há quem goste? Pelos vistos...


Nota: fotos da escultura romana do séc. II, exposta no Museu do Louvre, Paris ('O hermafrodita adormecido')

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