Recentemente,
durante uma simpósio em Pequim, Xi
Jingping, actual presidente da China,
fez um discurso centrado na importância da arte e dos valores culturais
chineses. Fazendo eco a citações de Mao
Tsé Tung, referiu que a arte e o património cultural devem servir o povo e a causa socialista.
Mas a realidade
que encontro no terreno conta outra história:
“Para que possa perceber melhor a situação, imagine o pessoal
dos armazéns do Museu do Palácio da Cidade Proibida que para comer as “noodles”
durante o período de descanso, se serve das taças antigas em depósito no museu
. E se e por pouca sorte parte uma, das 20 que existiam passam a existir 19,
sem que haja qualquer reacção ou controlo por parte dos responsáveis .” -
comenta o jovem restaurador Qian He com
quem falo.
« Existem 20.000 pinturas chinesas
antigas nos armazénsdo Museu , armazenadas
em condições de manutenção
extremamente precárias e sem que haja especialistas suficientes para
levar a cabo o trabalho de restauro.” - acrescenta Qian He, que procura
apoios para a criação de uma escola de formação de restauradores para trabalharem nos Museus na China e assim evitar
que muito do património artístico e cultural se perca ou seja destruido.
O bisavô, Liu Ting Zhi , era em Shanghai o restaurador
mais solicitado e apreciado da dinastia Qing. Em 1949 , quando Mao chegou
ao poder, a família foi obrigada a entregar
ao museu de Shanghai a valiosa
colecção de pinturas chinesas que possuía e em 1966, aquando da revolução
cultural, foi obrigada a ir trabalhar no
campo . Aí sobreviveu até que, ainda
durante a revolução cultural, Liu Ting
Zhi foi chamado para Pequim para se encarregar do restauro das pinturas
num túmulo . Por lá ficou com toda a familia , onde as gerações futuras
continuaram a trabalhar como restauradores de pintura chinesa no Museu da
Cidade Proibida. E agora Qian He , quarta geração desta familia , com um tio
ainda a trabalhar no Museu, perante o desinteresse dos responsáveis no departamento
cultural da administração pública da cidade face à urgência em melhorar as
condições de restauro e conservação
deste património , projeta partir com a familia para os EUA. A universidade de Michigan
convidou-o para ir trabalhar no restauro das pinturas chinesas nos museus
americanos.
Ao falar com Qian
He e perante a tristeza que sente face
ao desinteresse das autoridades pela preservação de um património cultural tão
importante como o que se encontra arquivado nos armazéns do Museu da Cidade
Proibida , pergunto-me como interpretar o discurso do presidente Xi
Jingping.
Será que o presidente Xi , na
linha do presidente Mao, também agora projecta instrumentalizar cultura e
património cultural numa nova campanha de controlo da criação artística em
função dos interesses do Partido Comunista Chinês, para a qual o rico património
de caligrafia e pintura tradicional chinesa
do Museu do Palácio da Cidade Proibida não são suficientemente
importantes ?
Maria
Outubro de 2014
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