quinta-feira, fevereiro 28, 2013

De chapéu na mão


Portugal talvez tenha tido nas últimas décadas um ou outro ministro de Negócios Estrangeiros com valor, mas sinto-me incapaz de mencionar um nome. Assim, de repente e muito pressionado, era capaz de referir o Medeiros Ferreira, mas não consigo acrescentar mais nada, talvez por perda de memória, talvez porque ninguém mais sobressaíu do cinzentismo crónico.

Em contrapartida, tivémos verdadeiras nulidades ambulantes embora inchadas de vento e de prosápia e o nome de Deus Pinheiro salta-me de imediato à frente pela vacuidade lustrosa da personagem. A verdade, e como atenuante dessa sequência de acácios, é que o Estado português não tem há décadas uma política externa com contornos definidos e objectivos determinados. Anda-se alegremente  na molhada e fazem-se as vénias do costume, mas não há um pingo de ideia sobre o médio ou o longo prazo, isso da estratégia nem se sabe o que é ou para que serve e a táctica resume-se a dar a impressão que se procuram mercados e que se trazem uns envelopes de Bruxelas.

Nas embaixadas há um ou outro adido que se esforça por enviar análises para Lisboa mas no palácio das Necessidades ninguém tem pachorra para ler esses papéis. Nós não temos embaixadas, temos uns edifícios com bandeira na varanda que albergam um salão mais ou menos apinocado, que convém aspirar de vez em quando para ali receber os terceiros secretários das outras representações, onde bebericam enjoadamente um copito de espumoso e fingem apreciar uma pindérica exposição de fotos sobre os vales onde os ingleses plantam videiras, os espanhóis colhem azeitonas e os chineses semeiam batatas.

Ante-ontem ouvi o actual titular da pasta insurgir-se contra o facto de haver umas investigações em Portugal sobre certas personalidades angolanas, conhecidas como branqueadoras de capitais e vulgares trapaceiros. Dizia o ministro que não admitiria que a justiça portuguesa se imiscuísse nos assuntos internos de um país amigo onde vivem cem mil portugueses e trabalham milhares de empresas. Nada me surpreende neste ministro que já se fez notar pela bajulice face aos corruptos de Luanda, mas registo a noção que tem do que é um Estado de Direito.
 
Queriam um MNE que tivesse um projecto para a Europa e para o papel do nosso país nela? Queriam um MNE que soubesse que propôr para reformar o Conselho de Segurança da ONU? Queriam um MNE que definisse os nossos interesses políticos e estratégicos na participação na OTAN? Queriam um MNE capaz e credível que fosse a expressão externa dos nossos valores democráticos e de defesa dos direitos do homem? Queriam um MNE que tivesse uma posição autónoma e portuguesa para os principais problemas da comunidade internacional? Parece que seria querer demasiado.

Coube-nos na rifa um MNE que nem para director do ICEP serviria pois mais parece um mero caixeiro viajante de chapéu na mão. E é com isto que por enquanto nos temos de contentar.
Queriam um prémio? Pois este é o nosso castigo!

6 comentários:

  1. Caro Douro

    É um enorme prazer ler as tuas "postas" plenas de inteligência, visão política e humor. Por tudo isso vale a pena, passar aqui pelo "nortadas". Vê lá é se estes "betinhos" do partido do fato às riscas não te começam a achar graça...

    um abraço de Águeda

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  2. Tem toda a razão, Agueda! Inteligência,visão e humor ! Também por isso venho ao "Nortadas". No que se refere aos "betinhos" , estou convencida que o Douro já sabe como "delete"!

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  3. Noto que o "Douro" faz as delícias da populaça que saliva a dizer mal dos "betinhos" do cds. É o que dá escrever ao estilo taxista. Tente ser positivo uma vez que seja. Não o conheço nem sei o que faz na vida, mas ao contrário do que dizem os seus admiradores, quando se arroga em grande defensor da moral, não há paciência para o ler.

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  4. Já agora, Anónimo, pelo seu comentário ,registo com um certo prazer, que mesmo sem paciencia , e apesar do "estilo taxista" , o Anónimo vai lendo o que escreve o Douro !!!!
    Se os "betinhos" são do CDS é o Anónimo que mo diz . Eu vejo-os por toda a parte. Ou será que o Anónimo é um "betinho"? Nesse caso, e se me dá licença : "DELETE"!

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  5. Não sei nem me interessa se hà betinhos no CDS, no PSD, no PS, no PCP, no Bloco ou onde quer que seja. Na verdade, nem sei bem o que é um "betinho" e, se calhar, para certas interpretações do conceito eu pròprio seria um deles. Quanto ao "anònimo" das 5:44, registo que se trata de alguém que não se identifica com a população (deduzo que o uso do termo populaça carrega algo de pejorativo em relação ao pùblico em geral) e sinto-me honrado que alguém que se identifica com a elite perca tempo com este motorista de carro de aluguer. De qualquer forma, sempre e logo que ao anònimo lhe pareça que a minha indignação contra a hipocrisia ou o oportunismo levam moral atrelada, pare aì e não leia mais nada, que hà que guardar a sua paciência para melhor proveito. Bom fim-de-semana!

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  6. Pode-se concordar ou discordar do que diz o taxista, mas agora considerar que é um defensor da moral ... valha-me Deus! O das 5,44 acusou o toque muito depressa ha ha ha!!!
    Armindo do Aterro

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