quinta-feira, setembro 09, 2010
Postal de Tel Aviv (4)
Finalmente consegui marcar uma visita ao colonato de Ofra, ao norte de Jerusalém, um dos primeiros colonatos em terra palestiniana do West Bank. Fundado pelo grupo politico-religioso de extrema direita Gush Emunim, que considera ter recebido de Deus o direito de ocupar a Palestina, do mar ao rio Jordão, a visita a este colonato anunciava-se tensa.
O meu interlocutor esperava-me no portão de segurança de acesso ao colonato. Num tom de voz pousado e conciliador, este filho de embaixador e sobrinho do único Prémio Nobel de Economia em Israel explicou-me as razões que o fizeram decidir vir viver para aqui . “Viver entre familias com os mesmos objectivos e as mesmas ideias.”, diz.” Uma comunidade , aberta a quem queira vir, de esquerda ou de direita, mas cumpridores das regras do “shabat” – sem carro nem televisão ”, precisa.
“A minha mulher é uma judia ortodoxa e cumpre as regras vestimentais – mangas e saias compridas, cabeça coberta . No entanto, se for dar uma volta pelo colonato poderá ver que há quem se vista sem este rigor. Mas no “shabat” ninguém vê televisão e os carros ficam nas garagens. E esta atmosfera agrada-me.”
“Mas porque razão vir viver para terra ocupada, quando este tipo de comunidades existe em Israel?” pergunto
“ Há quem venha para os colonatos por motivos económicos (casas mais baratas, incentivos dados pelo Estado no ambito da política de expansão e ocupação)” explica. “ A minha família veio por razões ideológicas. Deus deu-nos esta terra e é nosso dever ocupá-la .”
Todas as noites, Jerusalém é invadida por cerca de 15000 jovens da periferia, na maioria vindos dos colonatos próximos, como o de Ofra, em busca de droga, bebidas fortes e violência. A atmosfera consensual que o meu interlocutor me explica poder viver em Ofra, não parece interessar estes jovens.
“É um grande problema que tentamos resolver “ admite .” O desmantelamento dos colonatos em Gaza traumatizou muitos destes jovens que se sentiram traídos pelo governo. Para eles e para nós Sharon foi um traidor” ,conclui.
A satisfação que sentem quando , Uzi no ombro, se lançam em acções violentas de ocupação e usurpação das terras das aldeias palestinianas vizinhas, já não lhes chega, penso eu.
O rabi garantira-lhes que Deus nunca permitiria serem expulsos de Gaza. E Deus permitiu.
Maria
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