O mundo hoje é mesmo uma aldeia, como já alguém disse. Um pastor de uma pequena igreja de uma obscura cidadezinha da Florida decidiu comemorar o 11 de Setembro queimando exemplares do Corão e o planeta ficou à beira de um ataque de nervos. É evidente que o dito pastor não é uma pessoa equilibrada e que a queima do Corão é um acto estúpido e disparatado por todas as razões, quer pragmáticas quer de princípio.
No entanto, será isto motivo para tanta preocupação e azáfama de presidentes e governantes?
É.
Porquê? Porque existe receio, pelos vistos real e fundamentado, que a queima de uns exemplares do Corão por um lunático, num qualquer lugarejo perdido da América, provoque ataques terroristas, afecte as relações com os países muçulmanos e ponha em causa a segurança global.
Se é assim, há razões para existir uma mentalidade de cerco e de terror? Estão certos os que, generalizando, defendem que muitos sectores da religião muçulmana incentivam a agressividade contra o Ocidente? Espero bem que não e que a lucidez prevaleça.
Se numa qualquer cidadezinha do Irão o mullah local promovesse a queima de Bíblias havia lugar a um sobressalto do género? Claro que não. Os cristãos são perseguidos em muitos países muçulmanos e o seu culto proibido e isso, mal ou bem, não incomoda ninguém nos governos nem põe em crise a segurança global.
Há qualquer coisa de errado e irracional no facto de todos nos sentirmos em perigo, temendo ser atacados por muçulmanos mais exaltados, em consequência de um acto (condenável, gratuito e ofensivo mas pacífico) de um maluco fundamentalista, mas o problema não está só no pastor.
Para além disso, até compreendo que na generalidade dos países muçulmanos seja difícil entender porque é que o Presidente do país mais poderoso do mundo não consegue impedir o pastor de levar a sua avante, nem que para isso fosse preciso pô-lo 48 horas a reflectir no assunto como hóspede do estado. Acharão que se não se proíbe é porque se está de acordo e lá pegarão fogo a fotografias do Obama, mas enquanto nós nos preocupamos (muito bem) com a sua sensibilidade religiosa, haveria toda a vantagem que grande parte deles procurasse perceber o nosso sistema de liberdades e direitos. Não sei se existe algum mecanismo legal para proibir a fogueira do pastor, provavelmente não haverá, mas não me admiraria que dentro de pouco tempo passe a haver.
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