Informaram-me que iria a uma escola falar sobre a União Europeia, que escolhia o sítio e podia escolher um sítio qualquer no Japão que "eles" pagavam a viagem.
Lembro-me também de me dizerem que nessa tal ida à escola deveria usar calças porque muitas vezes sentávamo-nos no chão à japonês.Era uma Sexta feira e eu não tinha percebido nada de tanto que me disseram.
Na semana seguinte entrei em pânico: quando é que eu vou à tal escola mesmo? Era só em Maio, afinal, e a Naoko, minha secretária, trataria de me ir mantendo informada sobre tudo.
Escolhi Quioto mas deram-me Hyogo. "Não faz mal porque fica perto", disse-me a Naoko.
Com toda a informação que retive naquele primeiro dia em mente, fiz a mala para as escolas. Ainda ia passar em Quioto antes e como no dia em que empacotei faziam quase 30º em Tóquio, achei que deveria levar umas calças brancas que, por causa das bainhas que nunca arranjei por preguiça pura, exigem as sandálias (claro que entretanto começou a chover e passei um frio do caraças mas isso agora não interessa nada).
Dia 11 apresentei-me na primeira escola onde um director muito simpático me recebeu... de chinelos... tão prestável era que imediatamente sacou mais 3 pares de chinelos de quarto de 3 cacifos e nos indicou onde deveríamos guardar o sapatinho.
Note-se que, por causa da sandalete e para fazer boa figura na minha apresentação (afinal estava a representar não apenas Portugal mas toda a UE), tinha estado na véspera, e com bastante paciência, a arranjar a unhinha do pé... para no fim de contas estar duas horas em pé a falar, de calças com bainhas demasiado grandes para os meus parcos 165 cm e chinelo de quarto! Muito, muito digno!
O director explicou-me o que queria que eu explicasse, disse-me que tinham lá mais imprensa do que estavam à espera e que havia mesmo uma cadeia de televisão. Tremi mas nem dei parte de fraca. Qualquer baboseira que dissesse poderia perfeitamente ser culpa do meu intérprete.
No anfiteatro da escola esperavam-me 230 adolescentes de farda e... sim, chinelinho de quarto, todos iguais uns aos outros. E os professores que assistiam? Fato, gravata e chinelo de quarto. LIIIIIINDO!
Não sei se por causa da televisão, se impressionados pela minha postura 'digna' enquanto caminhava para o púlpito em chinelinho e calça a sobrar por baixo (sem tropeçar), o certo é que esses meus alunos se portaram às mil maravilhas e pareceu-me que apenas 3 ou 4 dormiam.
No fim das 2 horas ainda fizeram muitas perguntas (sobretudo sobre mim) e à noite apareci no telejornal. Eu era o supra-sumo da barbatana! Advogada, diplomata, 31 anos, a falar um carradão de línguas (nem o director fala inglês)!
"Oooooooohhhhh", diziam em uníssono.
Joana
É caso para dizer que a Joana os meteu a todos num chinelo! :)
ResponderEliminarbjs
JAC