quarta-feira, agosto 20, 2008
Bang-Bang
Passei cerca de dez dias sem ler jornais e sem internet. Não me parece que tenha perdido o que quer que seja de transcendente, mas quando voltei às minhas manhãs de café dei conta de que, para variar da intensa maré de incêndios que costuma assolar o nosso país nesta altura do ano (mas também ainda havia alguma coisa para arder?), o território nacional estava a braços com uma vaga de assaltos à mão armada, perseguições policiais e captura de reféns. Hoje de manhã a rádio noticiava o assalto a uma carrinha de valores na A2 com recurso a explosivos e ferimentos do motorista da carrinha. Um casal em Gaia escapou por um triz a uma tentativa de carjacking. Sinais da crise? Claro. Surgimento de novas formas de criminalidade mais violentas próprias de sociedades modernas? Talvez. Mas pode ser mais do que isso. Pode ser que aos poucos, assaltantes, meliantes, traficantes e afins, tenham vindo a tomar consciência de que a discussão que pouco mais era que teórica sobre a duração das penas e a eficácia ou falta dela do sistema criminal era de pôr à prova na prática, aproveitando os “furos” da máquina da justiça, e a realidade incontornável que significa sermos um país de vítimas fáceis, em que a maior parte das pessoas não reage nem anda armado, em que as leis limitam fortemente as possibilidades de legítima defesa, em que as penas de prisão ficam suspensas até cinco anos, onde a balança dos riscos e das vantagens do crime compensa estatisticamente o infractor, pelo que nesse caso corremos o perigo de estarmos apenas no princípio de uma longa metragem de bang-bang. Mas pode ser que não. Que seja só uma fase. Ou efeito da falta de notícias que a silly season sempre traz.
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Os portugueses não são intrinsecamente pessimistas, mas, como refere, e muito bem, não há alternativas: o pessimismo instalou-se definitivamente entre nós! e veio para ficar!
ResponderEliminarCreio que há razões muito profundas para este estado de coisas que, e não o digo por pessimismo mas antes por realismo, creio que ainda irá piorar muito antes de poder começar a melhorar...
ResponderEliminarConsequências, creio, do planeameno à portuguesa, conduzido pela nossa elite embarcada há décadas, para não dizer séculos, numa cruzada centralista, imbuída de um espírito salvífico dos seus míseros haveres, que consiste em acreditar que se Lisboa não for uma "grande cidade", Portugal está condenado!!!
Ou talvez seja antes da falta de planeamento à portuguesa que permitiu que os arredores das nossas cidades se transformassem em alfobres de condenados à criminalidade, desalojados de quaisquer esperança de uma vida digna, votados ao abandono escolar e à marginalização social; daí ao surgimento da criminalidade organizada...
Desabafos de um cidadão em processo de mudança de casa (e de País), ainda não totalmente acordado da silly season... Mas o assunto merece reflexão mais aprofundada. Cá voltarei.