quinta-feira, setembro 27, 2007

QUO VADIS?

O PSD anda irreconhecível. A luta intestina entre os dois emes, Mendes e Menezes, está a transformar-se numa novela, mediática, de contornos que seriam cómicos, não fossem tão sérios e trágicos.
Aponta-se o dedo ao estado actual da Política, à degradação da sua classe, às derivas populistas, à desorientação ideológica, à falta de uma cultura de valores, à política de caserna, leia-se caciquismo, enfim, poderíamos citar um nunca acabar de bodes expiatórios. Serão, porventura, todos estes motivos, e outros mais, os responsáveis pelo actual estado de coisas?
Na verdade, paira sobre o país um afã proselitista de produtividade. Busca-se um país de fazedores, de competidores à força. Há uma cultura do resultado, do fim a todo e qualquer custo. Sucesso, sucesso, sucesso. Por isso, nas curvas descendentes das instituições, como o sejam os partidos políticos, vive-se muito mal com a Oposição. Designadamente num PS ou PSD, habituados a serem poder. Useiros e vezeiros na distribuição das suas prebendas, a pagar o seu dízimo aos seus aparelhos. Suportes essenciais à implantação, no terreno, da organização político-partidária.
Ora, o tráfico das quotas dos militantes, com algumas aparições post mortem, é o espelho fiel e cruel, do estado de alma do país, e, por conseguinte, do partido que com ele mais se identifica, o PSD. O mais interclassista, que penetra mais verticalmente em todos os sectores da sociedade. Que melhor representa o cidadão comum, classe média, que tem o seu pequeno comércio, e que gosta de ir ao futebol ao Domingo, torcer pela sua equipa. Melhor, torcer para que a sua equipa ganhe.
E aqui é que bate o ponto.
A nação, pura, e com denodo, diz-se chocada e vergasteia no comportamento degradante das hostes dos dois emes. Tecem-se teses e alvitram-se explicações metafísicas para o status quo do pobre PSD. Partido em avançado estado de desvirtuação. Dizem....
Mas, o que é curioso é que nesse espelho literal e emblemático da realidade social, o futebol, a moral feita pública que se lhe aplica, nem hipócrita chega a ser. A verdadeira natureza da moral da bola é do ganhar a qualquer preço, a qualquer custo, por qualquer meio.
Acaso, se vêm os donos da bola, os aficionados do esférico, chocados com o tráfico de influências, a compra de árbitros, todos os expedientes menos próprios porque passam o resultado de tantos jogos?
Pinto da Costa, é amado pelos adeptos do FCP (e eu sou portista)... ou o Luís Filipe Vieira, pelos lampiões... façam o que fizerem, digam o que disserem......desde que o respectivo clube...GANHE. Perder é que não. Comprou a arbitragem, marcou golo e não foi penalty, foi off-side e não foi assinalado, mas o certo é que a equipa ganhou... os que perderam que se queixem. Ora, o que isto demonstra, à saciedade, é que o juízo de valor da moral privada e semipública, sobre este comportamento, é mais do que complacência, é de pura aprovação e reconhecimento.
Legítimo será pois extrapolar que se assim é, que o é de facto, não será de estranhar que se aplique tal moral nos demais sectores da vida social, inclusive no da luta político-partidária. Uma vez mais, o espectáculo degradante que se assiste só vem confirmar o que, empiricamente, o fenómeno do futebol faz intuir.
A moral pública demonstra acreditar numa virtude que esconde a licenciosidade geral da moral privada. Off the record tudo se passa de forma bem diferente. É um mundo novo. Um lugar onde a apregoada cultura de valores cede, facilmente, à cultura do resultado. GANHAR, ganhar a todo e qualquer preço, desde que se ganhe. O fim como elemento legitimador do percurso.
Por isso, os discursos de denodo sobre a actual corrida à liderança do PSD são o discorrer público de uma cultura de montra. Já dizia Frei Tomás...
Razão tem a vox populi quando diz que "cada um tem aquilo que merece..." , nós, enquanto povo, também.

1 comentário:

  1. Caríssimo Daniel Brás Marques:

    Eu compreendo o seu criticismo em relação ao amorfismo da populaça que só lhe importa o vencer, vencer, a qualquer preço. Mas já ouvi muitos portistas criticarem os métodos pouco ortodoxos, já ouvi queixas de benfiquistas a lamentarem a praxis de Vale e Azevedo e de alguns que actuam nos mesmos moldes.

    Neste PSD há algo de aberrante (em ambos os segmentos em disputa eleitoral), mas tenho ouvido críticas, não há assim tanto conformismo e aceitação passiva do status quo reinante. Há gente atenta quer na política, quer no futebol... E cada vez mais passará a haver se a justiça começar a dar mostras de que é insusceptível de capturas...

    ResponderEliminar