Desta vez, estive lá! E como percebo o teu lamento, Carlos, em não teres podido ir!
Não sou propriamente da geração dos Police. Tenho mais dez ou quinze anos, comecei a ouvir música ainda de expressão francesa - Françoise Hardy, Johnny Halliday, Sylvie Vartan - e de repente, Beatles, Stones, Kinks, Four Tops, Dylan, Chicago, Blood, Sweat & Tears, uma explosão que abalou o mundo, mas sobretudo a minha geração, que com a música descobriu uma infinidade de outras coisas!...
Mas não é disso que vou falar.
Com a invasão maciça da música anglo-saxónica, foi preciso fazer uma triagem, e essa triagem habituei-me a fazê-la numa perspectiva de qualidade, que é necessariamente diferente da perspectiva comercial que desde sempre nos inundou. Perante as centenas de bandas que apareceram nas últimas décadas, perante os milhares de hits que foram eleitos nos top-ten das várias capitais da música, muito poucos mereceram realmente ficar, muito poucos foram realmente inovadores em termos musicais, de muito poucos se pode dizer que marcaram uma geração. Entre esses poucos, estão The Police.
Surgidos nos finais dos anos 70, no pós-punk e nos alvores da new wave, este grupo destacou-se nos anos 80 com um tipo de música que cruzava influências do reggae e do punk ao rock, passando pelo jazz, e com preocupações, patentes nas suas letras, que por vezes ultrapassavam o vulgar conceito das baladas delicodoces e revelavam a formação académica de raiz antropológica do seu autor: Sting, o baixista e compositor do grupo.
Com Stewart Copeland, o iniciador da banda, e Andy Summers, os The Police salientavam-se por uma batida forte e variada, cheia de subtilezas rítmicas que compunham o universo de Copeland. Por sua vez, a guitarra de Andy Summers era cheia e precisa, com uma técnica que ultrapassava em concisão e subtileza a moda dos longos e intemináveis rifs ainda em uso à época, sem qualquer concessão a algum psicadelismo ainda existente.
Eram diferentes, eram novos - tinham 20 anos... - eram realmente bons!
Esta nova estética convenceu-me, e acrescentei-os aos meus favoritos. Infelizmente não pude ouvi-los ao vivo no Restelo 27 anos atrás, e foi com muita pena que assinalei o desaparecimento do grupo. Restava Sting, que tem sido como o Vinho do Porto: melhora com a idade. Ainda segui fugazmente Stewart Copeland, nalgumas aparições com outros músicos onde se destacava o seu sentido rítmico, mas de Summers, confesso que lhe perdi o rasto.
Foi com surpresa que li a notícia do reencontro dos Police - até o nome, à época, era uma delícia, como o foi o aparecimento dos GNR - e com muita satisfação a do agendamento de um concerto em Portugal no âmbito de uma digressão mundial.
Por isso ontem (terça-feira), estive lá. E pude ver ao vivo - 27 anos depois - uns The Police para os quais parece não se terem passado esses 27 anos. Não sou revivalista, em termos musicais continuo a ouvir o que de melhor se faz agora, a gostar de umas coisas, a evitar outras cuja contemporaneidade e arrojo não são seguramente sinónimos de qualidade. Mas a qualidade musial dos The Police, essa, continua actual e na vanguarda, como demonstraram os arranjos de alguns dos temas ontem apresentados . Ao longo de duas horas, desfilaram os seus melhores temas, sem pausas, sem concessões, com uma energia vibrante, um ritmo avassalador, espantando como apenas três músicos conseguiam encher um palco daquela maneira, com uma música e um som avassaladores! E ao mesmo tempo uma simplicidade e uma sobriedade só possíveis naqueles que não necessitam de mascarar o seu talento com acrobacias e trejeitos que não acrescentam em nada o espectáculo.
Também achei digno de realce um pormenor: a viola-baixo de Sting, bem como a velha Stratocaster de Summers eram as originais, já com o verniz bem comido e a madeira à mostra. A bateria, uma Tama, se não era a original, pelo menos era da mesma marca. A verdade é que o som era o mesmo que os The Police produziam à época, e isso era inconfundível.
Se a tudo isto juntarmos um espectáculo de luz e imagem de uma qualidade fabulosa, com ecrãns enormes com uma resolução fantástica, percebemos porque é que este foi um concerto marcante.
E porque 27 anos depois fechei os olhos e pude, por momentos, sentir Message in a botlle e Every breath you take como se tivesse trinta anos....
Os Police e o vinho do Porto: imagem feliz! Parabéns!
ResponderEliminarMaravilha...
ResponderEliminarFoi um concerto inesquecível. A sonoridade fabulosa com um ritmo fantástico. Enfim...valeu a pena para todos os nortadas que foram e vieram no mesmo dia, uma canseira (para mais de quem n foi pela CREL e teve a brilhante ideia de atravessar LX... 2 horas na fila) e uma ressaca no dia seguinte, mas uma noite para ficar na memória.
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