quinta-feira, abril 26, 2007

"Democracia e LIberdade no séc. XXI"

Ontem, no Palácio da Bolsa, Jose Maria Aznar, propôs-se falar de “Democracia e Liberdade no séc. XXI”. Em rigor, não o fez. Optou por uma abordagem mais informal, mais terrena e concreta de um tema conexo “Lideranças”. Não hesitou em defender as lideranças fortes, decididas, que proponham e infundam um projecto para o país, e, sobretudo, que transmitam confiança nas ideias, nas instituições, no povo, na nação.

Partilhando a sua vasta experiência política, os diversíssimos contactos que, ao longo do tempo, foi bebendo, concluiu que o líder decisivo, nas últimas duas décadas do séc. XX foi João Paulo II. Não como líder religioso, não como símbolo cultural, mas sim como líder político.
Todavia, não deixou de alertar para os perigos que espreitam a Europa, na sua matriz Clássica e Judaico-cristã. E subscreve as inquietações de Bento XVI acerca dos Fundamentalismos e do Relativismo (moral, ético). Numa palavra, diagnostica a ausência de valores como a raiz de uma crise identitária que se aprofundará, inexoravelmente, com a decadência da curva demográfica Europeia. Parafraseando Bento XVI, concluiu que, a Europa, está condenada a ser inexistente. Não se poderá controlar o futuro, defender os valores culturais e a sociedade europeia, se não houver, no futuro, quem os defenda? Afirma, pois, que uma Europa com 10% de imigrantes não pode ser a mesma com 40% de imigrantes!
Vai mesmo mais longe ao subscrever que as próprias sociedades multiculturais são sociedades divididas. Nada tolerantes. Que negam a sociedade liberal. Que não recusa uma só lei para cristãos, árabes ou hindus.
Para tanto a União Europeia deveria subscrever um projecto. Onde redefinisse as suas fronteiras, recuperasse o círculo íntimo dos seus valores, das suas raízes, evitando ficar cativa do discurso do politicamente correcto. A que acresceria a implementação de uma política comum na Imigração, Economia, Terrorismo, e nas relações Atlânticas. O que pressuporia uma reformulação da NATO. E, foi aqui, que Aznar surpreendeu ao defender uma Zona Económica Livre entre União Europeia e E.U.A.. Só desta forma se poderá afrontar e enfrentar o Mundo Global e Multipolar. Não se furtando a constatar que há uma só liderança Mundial: a da Sala Oval. Assumir esta realidade só poderá trazer efeitos benéficos na expansão dos valores ocidentais, Liberdade, Democracia, Tolerância e Responsabilidade Individual.
Foi, sem dúvida, uma conferência com conteúdo inovador e que conseguiu criar algumas inquietudes. Se, por um lado, causa alguma perplexidade a posição perante o fenómeno Imigração, por outro, alerta-nos a pertinência dos seus argumentos. Como defender melhor os nossos valores? Pela integração de minorias, ou pela sua rejeição? Creio que um dos melhores exemplos que contradiz esta visão acre e hermética são, precisamente, os E.U.A. A América é o paradigma de que a convivência de várias culturas, raças e credos é o fermento para o desenvolvimento. Não é por acaso que se afirma que a susceptibilidade de criar riqueza e crescimento é potenciada pela existência de sociedades multiculturais. Onde a partilha de experiências propicia o surgimento de inesperadas e férteis sinergias.
Acresce que uma Europa amuralhada, fechada no seu próprio reflexo, alheia dos seus vizinhos do sul Mediterrânico – Turquia incluída - e do Leste, será uma Europa em desrespeito pelos seus próprios valores de Solidariedade, Fraternidade e Liberdade. Uma ilha de Liberdade, num oceano globalizado, multipolar e multicultural, seria o primeiro passo para o fim do seu próprio autismo.

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