As aragens pesadas que vêm do Irão, bem como o sempre ubíquo Terrorismo, trouxeram uma vez mais o tema reincidente do choque de civilizações. Curiosamente, no nosso espaço público, chegou-se, de uma forma muito convergente, à conclusão que o problema de fundo não é civilizacional. Tudo reside numa simples questão de identidade. Ouvem-se vozes, até, reconduzir vários temas da actualidade a uma dissonância na partilha de identidades, sejam elas a sexual, a religiosa, a política....! É evidente que esta pertinente ideia tem as suas virtudes, pois ajuda a enquadrar algumas questões incatalogáveis. Todavia, remeter o problema do Fundamentalismo Islâmico à mera gestão das identidades, é meter o Rossio na Betesga. Ainda ontem, Prado Coelho, no Público, invoca a "guerra das identidades" como um sintoma da multiculturalidade, e insiste na tecla.
Ora, absolutizando o enunciado, não concebo que se designe por conflitos de identidade e se coloque no mesmo saco, divergências religiosas ou de cariz sexual...! Nomeadamente o Fundamentalismo Islâmico não pode ser encarado, por exemplo, como uma mera questão de identificação com determinada leitura integralista do Islão. Este simplismo só se percebe por uma tentativa obsessiva de rotulação, de qualificação. E, já agora, de alívio.
Como já aqui expus, por diversas vezes, há identidades e identidades. E há as que são verdadeiras idiossincrasias culturais. Que lançam as suas raízes no mais fundo da Cultura de onde emergiram. Só o discurso do politicamente correcto permite a simplificação fácil de questões cuja génese radica nos traços, esses sim, identitários de uma Civilização. E o neo-Terrorismo é um deles.
Cada Cultura tem os seus valores e as suas referências, os seus arquétipos. Etiquetá-los como sendo meras questões de identidade - no sentido de uma adesão individual e não colectiva - é prescindir dos mesmos, e revela um relativismo atroz que faria empalidecer o próprio Bachelard. É nesta peugada que vimos, perplexos, a intervenção de Freitas do Amaral. Foi exemplo bem acabado de quem prescinde dos seus valores e do respeito pelos mesmos, para defender os dos outros. Ora, isto ultrapassa qualquer subjectivismo relativizador: é um sofisma. E é esta a parte perversa do argumentário dos defensores das "guerras de identidades".
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