
Enquanto os responsáveis europeus se vão entreter amanhã e depois em Bruxelas a regatearem entre si os novos postos que o Tratado de Lisboa inventou para barafundar ainda mais a burocracia da União, ocorrem factos a leste que deviam merecer a melhor atenção.
A visita de Erdogan, o primeiro-ministro turco, ao seu vizinho iraniano Ahmadinejad na Terça 26 é um claro sinal de que a Turquia procura caminhos alternativos à sua comprometida adesão europeia, já que a Europa se tem comportado para com ela como um aldrabão que promete baldes de plástico em troca dos anéis de ouro.
Se a Europa falhar em arrimar a Turquia ao nosso espaço e aos nossos valores, será inevitável que aquele país e aquelas gentes se aliem ou aos persas ou aos russos. Sempre assim foi. E tal seria, na minha modesta opinião, um desastre para todos nós.
Sei bem que a adesão turca à União Europeia levanta dúvidas e reservas em muito boa gente, mas seria importante que essa questão fosse esclarecida de uma vez por todas e houvesse pelo menos a decência, já nem falo em coragem, de assumir resolutamente uma escolha, seja ela qual for. A Europa descredibiliza-se irremediavelmente neste teatro de sombras em que as negociações de adesão se transformaram por influência dos únicos interesses eleitoralistas franceses e alemães.
O nosso governo e o nosso ministro Amado acham que tudo isto não vale nada e estão prontos para o seguidismo do costume atrás do traseiro parisiense. Na verdade, no Palácio das Necessidades não há qualquer réstea de ideia sobre qual seja ou deva ser a nossa política externa nem quais são os nossos interesses estratégicos. São, ao mais alto nível, uns amadores a brincar com fósforos e escondem a sua ignorância com aquele tom enjoado e sofrido (ou será azia no fígado) com que preferem falar no eventual regresso da menina Alexandra.
Um nojo.