sábado, fevereiro 21, 2015

À espera dos bárbaros (3)


Fazendo fé no que conta o jornal ‘Expresso’ de hoje, a ministra Albuquerque “… espera que a maioria dos países não aceite facilidades em excesso para Atenas”.

Desconfio que a Madame Maria Luís tem saudades do tempo em que terá sido chefe de turma no colégio do bairro e do prazer que então lhe dava indicar os faltosos. O síndroma do capataz é coisa conhecida desde há muito tempo e essa “promoção social” leva o próprio a ser mais papista que o papa e muitas vezes a fazer figuras tristes como aquela de ir a casa do mestre para lhe servir de exemplo e assim receber um santinho de S. Firmino assinado pelo cura.

Cada um tem as suas idiossincrasias e gere como pode os seus traumas psicológicos mas se isso se repercute na vida de um povo e de um Estado, então a coisa fia mais fino.

 Se as “facilidades” que venham a ser concedidas à Grécia viessem a ser extensivas a Portugal, isso seria bom para nós ou não? É que chega-se a um ponto em que é muito difícil perceber a racionalidade, se é que há alguma, nestas posturas de Torquemada de aldeia.

7 comentários:

  1. Totalmente em desacordo. Desde logo, "não faço fé no que diz o Expresso" e espanto-me que o Douro faça. Em segundo lugar, facilidades para a Grécia (que, obviamente, não existirão) seriam péssimas para a Europa, incluindo Portugal: para além de serem desaconselhaveis do ponto de vista financeiro, e injustificáveis do ponto de vista negocial (num caso em que o devedor desesperado não tem qualquer poder negocial e vai acabar por ceder ao que lhe seja imposto ou vera instalar-se o caos) dariam margem para maior força em movimentos demagogicos e mentirosos, como o Podemos em Espanha e o nosso Costa-que-anda-aos-papéis, o que, como é evidente, deve ser evitado a todo o custo. Acharia, portanto, que em defesa de Portugal e da Europa, a ministra dissesse isso.

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    1. Bom, caro Luis, é melhor entender-se com o "Expresso" ou com a ministra sobre se ela disse o que disse. De qualquer forma parece que o Luis concorda com o que ela hipoteticamente terá dito e tem todo o direito de concordar pois ainda estamos num país livre, acho eu.
      Mas o Luis diz mais e nesse mais é que revela algo que me parece muito interessante: é que uma razão de pêso para não facilitar a vida aos gregos será a de barrar "a todo o custo" (a expressão é sua) a eventual aparição de outras forças tais como o 'Podemos' em Espanha ou o Costa cá. Ora aí está algo de intelegível para bloquear qualquer flexibilidade: esmagando a Grécia purificamos-nos de demagogos e mentirosos antes que sejam eleitos democraticamente. Eu falei no Torquemada? Engano meu: devia ter-me lembrado do Savonarola. Saudações discordantes

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  2. Douro...Douro... Faltou-lhe ler a parte "para além de serem desaconselhaveis do ponto de vista financeiro e injustificáveis do ponto de vista negocial".
    Por outro lado, não ver a Ministra como uma política, que, como qualquer político, quer que as suas ideias vençam eleições e que as opostas percam (nas suas palavras, querer ganhar eleições equivale a querer evitar que os outros sejam "democraticamente eleitos") parece-me pouco realista. A Ministra querer que forças como a do Podemos não vençam ou não ganhem força não tem nada de anti-democrático. É a própria democracia.

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    1. Caro Luís, é sempre um prazer e um privilégio ‘conversar’ consigo. Deixemos de lado, por hora, a eventual inconveniência financeira/negocial de concessão de facilidades/flexibilidades pois é matéria que, como sabe, divide os economistas, embora, assim me parece, os defensores do status quo estejam cada vez mais isolados.
      Penso que um dos piores males do tacticismo político é a ideia de que é admissível assumir quaisquer posições desde que estas permitam que os seus arautos se mantenham/alcancem o poder e ganhem eleições. Compreendo que a tentação seja muito forte mas ceder-lhe é muito perverso. Ainda pior se tal se jogar no plano externo, como é o caso, pois isso implica uma pressão sobre um eleitorado alheio (o espanhol) à custa da pressão sobre outro eleitorado alheio (o grego) e tudo isso para obter ganhos no seu próprio eleitorado. Além do mais, esses jogos são muito perigosos e feitos à nossa custa, à custa do nosso país e do nosso Estado.
      É melhor portanto regressarmos ao tema da conveniência política e económica puras e deixarmos a perversidade para os que no actual governo se entretêm com esses cálculos. Acredito, aliás, que também o Luís preferirá discutir a substância dos interesses do país do que o manobrismo eleiçoeiro e pretensamente democrático de gente sem escrúpulos.

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  3. O gosto e o privilégio são meus.
    No meu entendimento, numa negociação multilateral entre um credor (as instituições) e vários devedores (os países) um dos devedores, se quer conseguir algo, não pode entrar a pés juntos, exigindo o que não tem força para exigir. Desde logo porque qualquer relaxe do credor para com esse devedor é entendido pelos demais devedores como uma cedência à exigência.
    Este foi um dos pecados capitais dos gregos, a partir do qual logo se viu que, exigindo o que não tinham força para impor, com o tempo a seu ddesfavor, e com um credor que não pode dar a ideia de relaxe aos demais devedores, tudo iria acabar, como acabará, com uma cedência total dos gregos (ou o caos no interior da Grécia).
    Relativamente às questões financeiras, o mérito dos percursos não se mede por retórica, mas por números: comparar a situação portuguesa com a grega (sendo que os gregos já tiveram perdão e juros mais favoráveis) é suficiente para retirar conclusões.
    Quanto à ideia de que é perigoso (ou até antidemocrático) opinar e querer interferir nas eleições de outros países, estou em total desacordo. Numa Europa de mercado único, as eleições em Espanha são quase tão importantes para Portugal como as nacionais. E ter irresponsáveis a dirigir Espanha seria péssimo para Portugal e para a Europa. De resto, ainda ontem um rapazola grego do srysa veio botar faladura no comício do Bloco ( mas, como é de esquerda, é apenas a presença da solidariedade internacional entre povos juntos na mesma luta).
    abraço

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  4. Que se lixem as teorias dos economistas, dos políticos e afins.
    Toda a gente sebe que não há almoços grátis, e quando alguém almoça sem pagar, há alguém quem paga sem almoçar.

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