terça-feira, janeiro 07, 2014

Eusébio no Panteão Nacional ou como cavalgar a onda

Não quero retirar um "nano milímetro" do mérito e da justeza das homenagens a Eusébio, pelo futebolista que foi e, com isso, um embaixador maior de Portugal no mundo. Mas coisa bem diferente é esta singela notícia. Só políticos ávidos de sinergias oportunas e "espontaneamente" coincidentes com o que julgam ser o sentido geral da opinião pública, e quererem cavalgar a onda, é que se lembrariam de tal dislate. Refere o artigo 2.º da Lei 28/2000 que "As honras do Panteão destinam-se a homenagear e a perpetuar a memória dos cidadãos portugueses que se distinguiram por serviços prestados ao País, no exercício de altos cargos públicos, altos serviços militares, na expansão da cultura portuguesa, na criação literária, científica e artística ou na defesa dos valores da civilização, em prol da dignificação da pessoa humana e da causa da liberdade." Não poderá a natural, grata e, por isso, louvável comoção pública com o decesso do Pantera Negra confundir-se e ler nestas línhas que os seus actos preencheram uma tal previsão.
E também não se invoque, quase que reflexamente condicionado, a questão de Amália estar no Panteão. Amália, mais do que ter sido a intérprete maior de uma canção/música que define a alma portuguesa, foi quem lhe deu carta de alforria e a universalizou, lhe deu um estatuto. Amália não levou consigo só o seu nome e o nome de Portugal, mas deu a conhecer ao Mundo uma boa parte da cultura nacional, declinada em fá menor. 
Se à superfície parecem coincidir os pressupostos entre esses dois expoentes maiores das suas gerações, cavando mais fundo, surge um abismo. Eusébio foi um jogador excepcional numa modalidade desportiva anglo-saxónica. O valor de Amália reside precisamente em ter sido responsável pela "expansão da cultura portuguesa" - tout cour
Acresce ainda o argumento de que são demasiados os grandes vultos nacionais que lá se não encontram ....é verdade....mas mais verdade é que o Panteão só existe desde 1916 !!! 
Os actos de Eusébio foram grandes, é certo, mas não foram enormes, e é para estes que o Panteão está reservado... Para aqueles que daqui a 500 ou 1000 anos ainda poderão ser lembrados, porque como diz Camões, não se libertaram mas, da lei da morte se vão libertando...! E é a História que os há-de impor,  não são os homens, nem a espuma dos dias! Essa escolha não se vota, nem se decreta, adivinha-se!

11 comentários:

  1. Aquela portinha "...ou na defesa dos valores da civilização, em prol da dignificação da pessoa humana" parece demasiado elástica!...
    Mas também subscrevo (por baixo, como diria o Santana Lopes).
    Até por que uma porta aqui abre o precedente para os Pauletas e os Cristianos de amanhã. E porque não o Joaquim Agostinho? E ...?
    Se a Federação e o Benfica querem ter os seus num panteon, que o construam.
    FRF

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  2. Meu caro, até concordo contigo, mas a questão é o que é o Panteão Nacional?
    Não é nada, é uma fantochada.
    Tenho muita simpatia por Sidónio, mas não deixa de ser um abuso tê-lo lá posto. E que dizer de Humberto Delgado? Se está lá o Carmona, porque não o velho botas? parece-me que se dedicou a Portugal (goste-se ou não) muito mais que esses.

    Para o Panteão só deveriam ir os ilustres portugueses que tivessem morrido há mais 100 anos. E mesmo assim lá conseguiriam pôr o Aquilino, regicida execrável e escritor medíocre.

    Deixem ir o Eusébio, a seguir o Marocas, depois o Herman e mais tarde a Teresa Guilherme. Se virmos bem, preenchem os requisitos da guest list.

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    1. Não podia concordar mais ...mas com o José Mexia.
      Afinal de contas Eusébio no panteão nacional parece-me muito bem e já agora podiam já ir preparando o lugar ao lado para o Mário Soares..
      A bem da Nação....

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  3. Caríssimos discordantes - já que aos que anuiram seria redundante comentar - a questão que colocam é outra. Mas mesmo nessa, confesso, não transijo. Se Aquilino foi um Buiça encapotado, não sei e, de resto, formalmente não se provou, mas que o homem escreve português, escreve. Comparar alguém que enriqueceu o nosso Quinto Império (a língua) com os feitos de levar longe o nome de Portugal....não creio que seja coerente.
    Outra questão - que é a que verdadeiramente colocam - é o nivelarmos por baixo... não se pode! É o que esta gente que sugeriu semelhante alarvidade pretende...banalizar, vulgarizar, porque o escrutínio do mérito é difícil e privilegia sempre poucos em detrimento de muitos...é a vida! Cá em Portugal, os igualitarismos são um calcanhar de Aquiles e informam muitas decisões, como é o caso. Mesmo que algumas personalidades "panteonáveis" sejam discutíveis, não o são tanto, nem de longe, nos pressupostos que os lá levaram, como o Eusébio.
    Acresce que tudo isto tem um único fito...cavalgar a onda mediática e de comoção pública para que os aparentes interesses dos denominados "políticos" coincidam com os do chamado "povo". É de um oportunismo larvar! Por tudo isto e por mais alguma coisa sou contra. E sei que vocês, Zé e Fransico, necessariamente, também são!

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  4. Daniel, claro que concordo com as bases da tua ideia, mas a prática deita abaixo as nossas convicções.

    O Panteão Nacional é um instrumento que o regime que estiver instaurado usa para glorificar os seus, independentemente da vontade do povo.
    Foi criado na 1ª república para depositar todos os jagunços que participaram na implantação da mesma, mas azar dos Távoras, veio o 28 de Maio e só lá deixaram entrar o Manuel de Arriaga e o Teófilo Braga.

    Depois até 74 foram só grandes escritores e dois emblemáticos presidentes da 2ª república.

    E com a revolução entra o Humberto Delgado pela parte revolucionária, o Aquilino Ribeiro pela parte maçónica, e a Amália pela parte da comunicação social.

    Por isso, meu amigo, o Panteão não é mais do que o que nós quisermos, e pelos vistos quisemos que aquilo fosse um saco de gatos.

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    1. Concordo 100%. E acrescento que o aquilino com "a" (além de ser um dos jagunços da 1ª rêspublica maçónica sujalista e laica) está lá como um maçónico braço armado para actuações da criminosa carbonária e para o Regicídio. Por isso, e a menos de Alguns e de uma notável Amália, o panteão é o mencionado saco de gatos e poderia também passar a chamar-se alternativamente como "O pintelhão". Ficou abortada à nascença --- pelos 16 vergonhosos anos da 1ª rêspublica com +30 desgovernos que levaram PORTUGAL à falência e quase bancarrota --- a sua função de depositório de vaidades e de jagunçadas do regime imposto e nunca referendado (em tempo útil), e que após 25A ainda está a ficar mais abandalhado e abortado (coerentemente com o regime de abortos políticos rêspublicanos e maçónicos que tem gerado).

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  5. Subscrevo, caro Pedro!

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  6. Caro Zé, a questão é que temos que perseverar naquilo em que acreditamos... senão está tudo perdido! Quanto ao Panteão, é verdade que é uma ideia afrancesada, de inspirações maçónicas na tradição jacobina e ateia continental - a inglesa tem outros contornos. O Panteão romano foi feito para os deuses, o português para os homens. Mas que seja para aqueles que, efectivamente, tenham, por alguma forma, mudado o seu tempo, o seu Mundo, para melhor. Quanto aos nomes que referes Humberto Delgado é, claramente, um caso conjuntural. Por isso concordo com a tua sugestão de passarem 100, vá lá, 50 anos para poder ascender a tal honra. Só o crivo do tempo poderia definir tal honra. Enfim, é o que temos e parece que da esquerda à direita há consenso... fraco Rei faz fraca a forte gente!

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