segunda-feira, março 11, 2013

A desesperança


A primeira condição para que desponte uma luz lá longe é a de que o país perca de vez a esperança. A esperança de que nos falam os Vitorinos e os Machetes, a esperança que enche os sermões dos optimistas, a esperança cavaquista de que se não era em 2012, será em 2013, mas certo certo em 2014 ou então 2015. Essas esperanças são a tralha e o lixo tóxico que nos mantêem de joelhos a orar, a pedir, a resmungar, a encaixar, a aguentar, enfim, a morrer devagarinho, com respeitinho, educadinho, bem castradinho, amén.

Não há nada a esperar da Europa dos Barrosos, não há nada a esperar dos partidos do Governo, não há nada a esperar do PS, nada a esperar do PC ou do Bloco. Ainda menos há a esperar o que quer que seja de útil ou de interessante do Cavaco, do Cardeal, do Benfica ou do Ulrich. No momento, no dia ou na semana em que uma parte importante das pessoas se der conta de que não há nada a esperar de bom, então sim, pode ser que algo de bom comece a acontecer, pois essas pessoas, ao perceberem que esta tropa fandanga que nos embala são a tampa que nos impede de saltar da panela, essas pessoas arrebentarão com o tacho.

É ao que chegámos. Sim, eu sei, é tudo muito radical, é desconfortável e é sobretudo arriscado. Era tão bom confiar no euro e na bondade deles. Era tão bonito aquilo da solidariedade e do grande mercado e das quatro liberdades. Então e a Constituição? Não era ela uma das mais avançadas, mais progressistas, mais garantistas? E a nossa credibilidade externa tem crescido, ainda esta manhã ouvi dizer.  Pois...                                                                                                                                                            

Sabem onde está o contentor de lixo mais próximo da vossa casa, do vosso escritório, da vossa escola? Levem essa gerigonçada toda e deitem-na lá. Façam isso como medida de salubridade pública mental. Deitem lá as vossas crenças na moeda única e na dita honra de pagar a dívida, despejem junto às cascas de fruta e às embalagens amassadas os discursos da tal esperança, cheios do bom-senso morno e inútil e sublinhados de sorrisos a esconder a mentira e a fraude.

Mete medo? Claro que assusta, mas sentir-vos-eis mais aliviados, mais preparados e aparentemente mais sózinhos. Largai lá toda a esperança, como se tivésseis entrado no inferno. O camião há-de recolher esse lixo e levá-lo para onde ele deve morar, o aterro. E então, sim, regressai porque há tarefas que nos esperam e um recomeço que já tarda. E há-de ser um dia, e a seguir outro dia. Só haverá amanhã se deixares de esperar. Contra o desespero, a desesperança. Bora!

4 comentários:

  1. ESPERANÇA teremos que manter por Portugal e pelos Portugueses que sofrem na pela com as prioridades dos governos.
    ESPERANÇA que muitos acordem e participem na vida cívica, já.
    ESPERANÇA que estejam disponíveis para apresentar candidaturas independentes ou apoiar cidadãos probos nas Autárquicas.
    ESPERANÇA que todos se associem contra as medidas que entregam sectores estratégicos ao desbarato.
    ESPERANÇA que todos se movam para contrariar o confisco de pensões que foram contratadas com o Estado, no final de longas carreiras contributivas.
    ESPERANÇA que todos reparem no VALOR do TRABALHO que o governo atribui a seus recém contratados e recém licenciados que contradiz esse confisco de pensões.
    ESPERANÇA que todos percebam que a pobreza parece ser o objectivo do governo, se prefere atender a interesses instalados e aos seus.
    ESPERANÇA noutros valores e formas de fazer Política com medidas estruturantes que contrariem a destruição das empresas, do trabalho, do tecido social e do ESTADO.
    ESPERANÇA de tudo fazer por PORTUGAL, devolvendo-lhe o que lhe é saqueado todos os dias, para enriquecimento de poucos.

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    1. ... e Fé! Boa sorte!

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    2. E como é que isso tudo vai acontecer?

      Por imposição divina?

      Amigo, se na verdade acredita no que diz, certamente já juntou muitos amigos e todos já meteram mãos à obra.

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  2. Esta manhã ao ler no FT o artigo "Africa must get real about Chinese ties" não pude deixar de pensar em Portugal. A mesma dependência total do exterior, sem incentivos à creatividade, ao espirito de iniciativa, sem energia, que muitos dos países africanos! Esperança para aqui/Esperança para acolà / Esperança blablabla.
    "Estranho modo de vida", dizia a canção " coração tão... dependente..."acrescento eu.

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