A carne de cavalo que temos comido pensando tratar-se
de boi é uma pontinha do iceberg da indústria alimentar europeia. Se as
diferentes autoridades nacionais começassem de verdade a analisar os pratos
cozinhados, as latas de salsichas, as conservas de carne, os congelados, as
sopas e os doces que alegremente nos vendem pronto-a-comer nos supermercados seria
um susto colectivo e uma náusea generalizada.
É certo que nada indica que estejamos ao nível
da China ou da Rússia, onde abundam produtores de alimentos que envenenam
consciente e sistematicamente as populações. Na Europa isso também acontece,
como foi o caso do falso azeite espanhol ou dos óleos de garagem que acabaram na cadeia
alimentar dos belgas, mas é menos frequente. Onde nós somos especialistas é na
fraude: dar gato por lebre e ao preço desta.
A boa consciência europeia salva-se impondo
uma infinidade de regras de etiquetagem e de rotulagem que aumentam na proporção
directa da diminuição do tamanho das letras na embalagem. A minha mulher leva
uma lupa quando vai às compras mas invariavelmente tem de explicar-se a algum
fiscal de prateleiras que julga que ela anda a lamber as latas.
Este escândalo começa a incomodar. Ao princípio
foi fácil: apontou-se o dedo aos romenos que, era evidente, estavam por detrás
desta vergonha. Mas a cada dia que passa percebe-se que não só aqueles nada
fizeram de ilegal ao cumprirem uma encomenda de carne de cavalo que como tal
exportaram, mas que em França, no Reino Unido, na Alemanha, na Holanda, enfim,
nos mais respeitados Estados-Membros da União sai dos matadouros carne de burro
ou de cavalo ( se calhar também de cão) como se se tratasse de carne de porco
ou de vaca. Com a agravante de que, apesar de toda a gente dizer que não se
trata de um problema de saúde pública, ser muito provável que a maior parte
desses equídeos tenha sido tratada com anti-inflamatórios altamente tóxicos para
o homem.
Pode ser que entretanto alguém se lembre de ir
dar também uma vista de olhos pelos produtos que se apresentam como sendo bio
ou eco. Ah pois, se é preciso saber a história toda, ao menos que no-la contem
de uma vez, que o nosso estômago aguenta. Ai aguenta, aguenta...
Já me tinham dito que há duas coisas que não interessa saber como são feitas: as leis e as salsichas.
ResponderEliminarUm abraço
JAC
Aqui em Dakar os cavalos andam na rua a puxar carroças. Mas os talhos (na estrada!) têm carne vermelha e duvido que seja toda de vaca. Mas uma coisa é certa, qual é a diferença entre carne de vaca, cão, crocodilo, periquito? Desde que não seja humana, carne é carne! E se for processada e bem temperada nem se nota. Os Chineses nesse aspecto são bem mais abertos!
ResponderEliminarAqui em Dakar os cavalos andam na rua a puxar carroças. Mas os talhos (na estrada!) têm carne vermelha e duvido que seja toda de vaca. Mas uma coisa é certa, qual é a diferença entre carne de vaca, cão, crocodilo, periquito? Desde que não seja humana, carne é carne! E se for processada e bem temperada nem se nota. Os Chineses nesse aspecto são bem mais abertos!
ResponderEliminarMuito bem Francisco
ResponderEliminarMesmo quando não estou de acordo (o que não é o caso agora) é sempre um grande prazer ler o que escreve.
Um abraço
AM
Caro Gama, a Comissão Europeia decidiu hoje, 14 de Fevereiro, autorizar que as douradas e outros peixes das chamadas "quintas de mar" sejam alimentadas com farinhas de carne animal. O que pensa disto? Será um exemplo de abertura de espírito ou mais uma patifaria cujas consequências são imprevisíveis? No pior caso, quando se constatar a versão "peixes loucos", nem o Barroso nem os outros comissários estarão lá para se responsabilizarem. Outra coisa: a carne humana também é carne, ou julga que não? Aonde é que a gente põe um limite? O Gama era capaz de fritar uma costoleta do seu cão? Eu não era capaz de comer o meu, mas percebo que seja por não ter abertura de espírito. Mas se calhar era capaz de comer um bife do seu, se estivesse esfomeado e não houvesse alternativa. Se sair de Dakar, vai encontrar por essas picadas uns miúdos a vender à borda da estrada ratos do campo que são considerados um petisco. Experimente; abre-lhe ainda mais os horizontes . Bote-lhe muita pimenta e un pós de gengibre. Bom apetite e um abraço.
ResponderEliminarÉ boa essa das quintas do mar. Eu até como peixe-galo. Mas quanto ao cavalo marinho, sou incapaz.
ResponderEliminarUm abraço
JAC
Caro Douro. Eu não como carne há 2 anos, não consigo. E se as douradas de "aviário" passarem a ser alimentadas dessa maneira também deixo de lhes tocar. O mundo agradece. Abraço
ResponderEliminardesgraçado do alimal que passa a goela de outro alimal. Essa é que é essa. ab Zé G
ResponderEliminarComo diz Pierre Rhabbi, a nossa alimentaçao tornou-se tão toxica que, quando nos sentamos à mesa, em vez de "bom apetite" deviamos desejar-nos "boa sorte"!
ResponderEliminarMG