terça-feira, fevereiro 12, 2013

Bento XVI

Na minha muito humilde perspectiva, acho que é já possível tentar algumas reflexões sobre este papado de Bento XVI.

Por um lado, a escolha pelo Cardeal Ratzinger do nome Bento tem de ter um significado. Em especial, conhecendo o seu perfil altamente intelectual, a invocação de São Bento deve ser vista como um sinal. São Bento é o padroeiro da Europa. E a Europa apresenta-se, nos dias de hoje, como portadora de um conjunto de valores com vocação universal. Há, de facto, visões europeias que se espera que tenham acolhimento noutras zonas do mundo. O ponto é o da dignidade da pessoa humana. E é a partir daqui que, por exemplo, nasce a proibição da pena de morte e a igualdade entre homens e mulheres. Este é um património europeu, assente e construído sobre os valores (e a tradição, culturalmente falando) judaico-cristãos. Acho que foi a este património a que o Papa quis dar relevo quando escolheu ser Bento XVI.

Para o primeiro ano do seu papado, Bento XVI escolheu a figura exemplar de São Paulo. Sinto que é uma escolha que se insere na lógica da escolha do nome. São Paulo é o primeiro teólogo, com uma teologia verdadeiramente actual e, diria, europeia. O "não há grego nem romano" porque somos todos filhos de Deus, é um apelo forte à igualdade entre todos e, por isso mesmo, há defesa da dignidade da pessoa humana.

Neste ponto diria que Bento XVI esteve verdadeiramente na vanguarda.

Um outro ponto que pode ser objecto de balanço é que havia o receio de um retrocesso nas posições da Igreja. Dizia-se que este Papa era um radical, que era o guardião das posições radicais, e que se temia o pior. A verdade é que tivemos um Papa tolerante, embora firme.

A isto não é indiferente o seu elevado perfil intelectual. Ratzinger há muito que defende uma conciliação entre Fé e Razão, e coloca essa visão em prática. Sugiro, só para ter um cheirinho, o diálogo entre Ratzinger e Habermaas sobre os fundamentos do poder no Estado. Eu tive a oportunidade o de ler numa edição da Revista Estudos, do CADC. E vale a pena poder ver o elevando nível de uma discussão entre Ratzinger e um dos símbolos máximos do racionalismo  contemporâneo.

Tivemos um Papa de grande profundidade de pensamento, e altamente consciente da realidade que o rodeia. É, provavelmente, essa consciência que provoca esta sua decisão.

Por fim, parece que ainda é cedo para medir todo o significado actual e futuro de uma renúncia papal, assente na avançada idade. Mas sinto que a partir de agora as coisas mudaram. Sinto que as escolhas recairão sobre cardeais mais jovens, e que a renúncia passará a ser a regra.


1 comentário:

  1. Muito pertinente o que dizes....se como diz Tolentino de Mendonça ...que a alma precisa de luxo... Muito mais precisa de mistério, no sentido de uma dimensão mística profunda...! E dos actos que o façam intuir pelas pedras vivas que formam a Igreja Universal. Para mim o grande desafio da Igreja para os próximos séculos...

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