sábado, outubro 20, 2012

Depois do vómito


Quando o enjoo se junta à náusea é provável que haja vómito.

Esta semana houve mais uns tantos banqueiros e ex-banqueiros a explicarem-nos o privilégio  de termos um Gaspar na colecta. Já conheci muitas falsas reputações, nulidades que eram vistas como geniais e gente competente que era marginalizada como inútil. Mas o caso deste Gaspar ultrapassa tudo, desde logo porque assenta em inverdades factuais que apenas servem para lhe dourar a aurea: uma delas é a de que regressou directamente de Bruxelas para o Terreiro do Paço, ignorando-se que S. Exa. integrara, havia meses, o BES. Um outro erro de paralaxe é o de que este Gaspar seduzira, enquanto lá esteve, as altas instâncias da União Europeia pela sua clarividência e visão, escamoteando-se o cinzentismo da sua passagem durante uns meses por uma estrutura secundaríssima da Comissão, da qual foi dispensado sem remorsos.

Mas nós somos a pátria dos Acácios, nisso somos Constâncios (outro Vitor), e desde que estes lhes sejam bons serviçais, haverá sempre uns Mefistófoles que lhes escreverão cartas de referência.

O homem não tem culpa pois as reputações são sempre obra de terceiros, mas ainda assim aproveita o balanço e a oportunidade: foi deprimente vê-lo a abanar o rabo quando o Sr. Schäuble lhe fez um rasgado elogio num evento alemão: “Nós temos a sorte de estar o Gaspar nas Finanças de Portugal”. Um homem de bem ou um democrata de gema repudiaria de imediato aquele “nós” venenoso, mas ao ‘nosso’ Gaspar  interessa ser mais dos “wir” que nosso, pois são eles que o nomearão mais tarde para um bom posto internacional onde os ganhos não pagam impostos.

Desde as primeiras horas deste Governo previ que o prazo de validade do Gaspar seria curto mas estava longe de imaginar que a caducidade fosse tão rápida. Aqui chegados, penso contudo que seria injusto dispensá-lo na remodelação que se seguirá à aprovação do orçamento. Pelo contrário, acho que deve manter-se e responsabilizar-se definitivamente pelo previsível novo fracasso dessa execução orçamental. Demiti-lo agora seria deixá-lo escapar-se e salvar-lhe a tal reputação. Ninguém merece isso, nem ele nem os que ainda o incensam. Há-de partir, mas depois do vómito.

 

 

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