quarta-feira, setembro 19, 2012

Get your facts right!!! A propósito de diplomatas

A propósito da notícia de ontem do Correio da Manhã, sobre DIPLOMATAS sinto necessidade de quebrar o meu silêncio. Não há direito de publicar MENTIRAS destas, sem sequer se procurar esclarecer os factos subjacentes.

Primeiro facto: os salários referidos na notícia não correspondem à verdade. Não há nenhum conselheiro de Embaixada a receber 2800 euros brutos. Desde logo porque nos últimos dez anos, só no ano da campanha para reeleição do então PM José Sócrates é que fomos aumentados. Nos anos anteriores e seguintes, os nossos salários não eram aumentados por serem superiores a 1500 euros mensais. Depois, sofremos os mesmos cortes que toda a gente. E até mais, porque não foi só o salário que foi cortado: também nos cortaram os subsídios e, como se não fosse suficiente, ainda englobam os subsídios para calcular as taxas do IRS. Os salários brutos dos mais recentes conselheiros de embaixada são pouco superiores a 2 mil euros (o que dá rendimentos liquidos de 1400 euros mensais, com os actuais descontos). Os subsídios que recebemos não contam para o cálculo da reforma, nem contam os descontos que fazemos com base nos subsídios. Neste, como noutros aspectos, estão muito melhor os contratados locais de muitas embaixadas e consulados (que chegam a ganhar mais e a reformar-se com valores mais altos do que os Embaixadores de carreira, apesar destes últimos representarem Portugal nos países onde estiveram acreditados).

Segundo facto: os subsídios de renda de casa não integram o rendimento disponível dos diplomatas. Servem exclusivamente para pagar a renda de casa, o que quer dizer que são pagos apenas contra recibo de renda, aos donos das casas onde os diplomatas têm de viver. Além disso, os nossos subsídios, por exemplo para representação, também sofreram cortes. Tantos ou mais que os dos outros funcionários do Estado.

Terceiro: nenhum dos exemplos dados, com fotografias e tudo, é diplomata. São nomeações, determinadas por outra ordem de razões. Nós somos colocados nos postos mediante concurso, que não sendo público, obedece a regras claras. Não podemos negociar, como fazem os muitos expatriados das empresas, nem o vencimento, nem os demais subsídios que vamos receber. Somos obrigados a mudar de País, com a casa às costas e a Família a reboque, de 3 em 3 anos, em média. Umas vezes vamos para cidades fáceis, como as citadas no artigo, outras vamos para cidades onde as empresas portuguesas tem dificuldade em convencer os seus funcionários a viver...

Evidentemente, não me estou a queixar da minha situação. Escolhi esta carreira e tenho orgulho em servir o meu País e os meus compatriotas. Sei que muitos portugueses vivem pior do que os diplomatas. Talvez por isso é que a carreira diplomática tem pouca tradição de se queixar dos cortes que vai sofrendo: nos vencimentos, nos subsídios, nos apoios, nos lugares (em quantidade e em diversidade), nos funcionários dos quadros das embaixadas e consulados (o que nos obriga a trabalhar muito mais para fazer o mesmo, com mais solicitações).

Mas não deixa de ser injusto ser acusado publicamente, num artigo que publica mentiras e ainda por cima se apresenta como sendo de "investigação". Até porque a maioria dos expatriados não diplomatas que vamos conhecendo nas cidades onde trabalhamos, ganham mais que nós. A generalidade dos diplomatas de outros países europeus, ganham mais que nós (embora, nalguns casos, tenham subsídios inferiores aos nossos). E tem melhores condições de reforma.

E não deixa de ser revoltante não caracterizarem uma carreira que implica sacrifícios a todos os níveis: na carreira das nossas mulheres/maridos; nos percursos escolares dos nossos filhos; no afastamento das famílias e amigos, etc, etc.

Sobretudo, é irritante ser instrumentalizado por um órgão de comunicação social, ainda por cima de grande divulgação, apenas porque nesse momento é "conveniente" atacar o Ministro que, circunstancialmente, ocupa a pasta dos Negócios Estrangeiros.

E porque quem tem Honra, tem nome, aqui fica o meu: Francisco Meireles. Conselheiro de Embaixada em Maputo

PS. Não tenho nada contra a transparência, nesta como noutras matérias. Mas que sirva para se revelar a verdade e não o que possa ser conveniente num dado momento.


2 comentários:

  1. Compreendo bem a sua indignação e desabafo.
    Mas faz ideia de onde saem estas notícias que difamam o pessoal e colaboradores do MNE? Ora, adivinhe lá...

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  2. lagrimas de crocodilo5:44 da tarde

    GET YOUR FACTS RIGHT

    2000 euros salario + 7000 euros de subsidios LIQUIDOS + casa de luxo ate' 2800 euros por mes.

    O equivalente bruto em Portugal seriam 20,000 euros brutos.

    Nada mau para carimbar passaportes e escrever relatorios que ninguem le...

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