sábado, março 17, 2012

A nova Cartago


« O declínio de Cartago » - Turner
1817

Do Presidente da República ao mais modesto organismo público lusitano, vinga um discurso e um comportamento comercial descaradamente proteccionista e alegadamente patriótico. Não deixa todavia de ser curioso que esta conversa do “faça férias cá dentro” ou do “compre nacional” alterne, nos mesmos actores, com apelos à solidariedade europeia ou à boa vontade merkeliana para que aliviem a pressão dos mercados financeiros e se disponham a mutualizar as dívidas públicas.

É compreensível que o taxista de Campanhã não perceba que a bota não diz com a perdigota, mas é inadmissível que haja responsáveis políticos que contrabandeiem a lógica e naveguem sorridentes nas contradições do mais abjecto populismo e da mais rasteira demagogia. Verdade se diga que essa duplicidade se alastra por todos os países membros da União Europeia, sendo que a campanha presidencial francesa vem constituindo um bom exemplo desse desmoronar da ideia base de construção de um espaço comum e de um mercado único.

E ainda há uns líricos que falam na federalização da coisa. Dir-se-ia que as palavras perderam todo o sentido, se esvaziaram de qualquer significado e se transformaram numa mera ladainha incoerente para exorcizar o fiasco e o declínio.

1 comentário:

  1. E está tudo dito. Pena que os filtros da nossa tolhida democracia só deixem escorrer para a opinião pública, enlatados e mixórdias inquinadas dos intrujões feitos donos e senhores do nosso espremido quintal.

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