quinta-feira, dezembro 01, 2011

Mário Soares

Nunca me lembro de ter estado de acordo com Mário Soares em algum momento dos últimos 25 anos, apesar de ele já ter defendido quase tudo e o seu contrário. Obviamente, não esqueço a importância da sua opção preferêncial pela democracia num momento difícil da nossa história recente, nem a sageza da eleição da America como aliado estratégico nos idos de 74/75.
Vem isto a propósito da publicação do seu último livro e do seu último manifesto.
O livro é, evidentemente, um exercício de selecção de memória, um retrato conveniente, uma ode à grandeza com que o próprio Soares se vê.
O manifesto é um recado ao PS e à esquerda, não fala ao país, nem ao portugueses directamente, mas condiciona os que ainda representam cerca de 40% dos portugueses.
Aos 87 anos, é notável como Soares ainda influencia uma área importante da vida política portuguesa. É o verdadeiro aristocrata da república de que se sente herdeiro varão.
Com a personalidade do verdadeiro aristocrata republicano, Soares nunca cuidou de ter em conta a resposta pelos seus actos, sempre viu a coerência como coisa parola de quem tem algo a provar, interpretou sempre o tempo presente com oportunidade e do passado usou sempre apenas o que lhe foi conveniente.
Soares flui pela vida, e ao longo dos tempos, extraindo o melhor de cada momento: o luxo e a opulência a que nunca se coibiu, nem lhe foi sancionado, a presença permanente no topo da vida política, o culto dos seguidores e a vingança impiedosa aos inimigos.
Pois é, são imensas as patetices que diz, mas nunca por patetice.
Não é um homem admirável, mas ter chegado até hoje na forma em que chegou faz dele um personagem invejável.

2 comentários:

  1. > O que é que faltou a este homem na procura mórbida de master palco? 30 e muitos anos é muito tempo, que descontado o pós queda da cadeira do outro já este lhe deve estar a dever uns bons pares de meias solas. Desde sempre em toda a comunicação social, qual esgota folhas de jornais e embaciador resistente dos espelhos das televisões.
    Mário Soares ontem na Sic, hoje na Tvi não será a prova de respeito que o seu ego reclama a exemplo do que o próprio sugere e diz reconhecer na votação orçamental do seu partido como tributo resignado à malfadada memória de Sócrates. Notável a capacidade mendigante a que se abre solene o terno regaço dos que iludem o passado e fintam o presente com prendas pré-natalícias envenenadas na prateleira exposta sem regulação ambiental. A réstea de respeito que ainda poderemos ter pelo seu tempo exige que Sua Excelência não ocupe mais do nosso.

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