sexta-feira, dezembro 30, 2011

A importância dos jornais

Hoje ficamos a saber que os jornais no seu todo perderam uma vez mais compradores/leitores. O JN que chegou a vender mais de 120.000, e não à muito tempo, anda hoje na casa dos 78.000, deixando a liderança para o Correio da Manhã que consegue 124.000 vendas diárias. Impensável e inadmissível diria o meu bom amigo Orlando Castro. Por outro lado, nos chamados jornais de referência, a coisa ainda é mais negra. Público na casa dos 26.000, DN nos 17 mil e o "I" com apenas 5 mil exemplares. No que respeita aos económicos na liderança mantém-se o Diário Económico com quase 5 mil e o Jornal de Negócios a chegar aos 3,5 mil exemplares. Números de vendas em banca, podendo e devendo-se somar as assinaturas, sendo certo que muita boa gente poêm desde logo em causa esses valores.
Mas discussões à parte, o certo mesmo é que os portugueses têm deixado de ler jornais. Certamente é menos cansativo ver a Casa dos Segredos; e muito mais estimulante saber e ver os concorrentes a fazerem sexo oral. Só que a sociedade e o mundo não se compadecem de gente mal informada, mais a mais que Portugal precisa mesmo é de uma opinião pública informada e bem informada. Os tempos são exigentes.



As justificações para este afastamento entre os portugueses e os jornais podem ser várias, e Pedro Lomba hoje no Público referia-se a algumas delas, como a preferência dos jornais estrangeiros, mesmo que fosse o Minesota Times. Mas o primeiro que os portugueses apresentam é a falta de qualidade dos jornais e consequentemente dos jornalistas. Mas se quisermos admitir que é verdadeira, poderiamos argumentar em sua defesa com o facto de haver abaixamento de vendas e de receitas e como tal não há dinheiro para recrutar jornalistas seniores e assim ficam os maçaricos saídos das universidades a engordar as redacções dos jornais. E dessa forma menos leitores haverá e chegaremos ao ponto que serão máquinas a encher páginas que ninguém lerá. A pescadinha de rabo na boca.

Como sair daqui é a grande questão. Se é certo que não podemos mudar os portugueses todos de uma vez, embora vontade não falte, há que investir nos jornais dotando-os de jornalistas capazes e formando os tais maçaricos para que no futuro sejam tão bons ou melhores do que aqueles que hoje "copiam". Dir-me-ão que não há gente interessada em investir na comunicação social. Nada de mais errado direi então eu, pois apesar de o negócio parecer financeiramente ruinoso o certo é que continua a despertar o interesse de imensos grupos económicos. Vá-se lá saber porquê...ou sabemos muito bem digo eu. A razão é simples: apesar de perderem leitores os jornais ainda são quem vai formando opinião e lançando as discussões que alimentam o dia a dia dos portugueses.

Mas eu diria que a primeira as razões é uma falta de hábito de leitura. Hábitos que devem ser fomentados logo na escola primária. Em tempos fui professor num curso de pós-graduação, frequentado por licenciados muitos deles já no mundo do trabalho que procuravam uma vertente de comunicação com especial enfase na assessoria de imprensa e no relacionamento com os media. E todos os anos fazia um inquérito simples, ou pelo menos assim eu o pensava. Perguntava nomes de directores de jornais, de pivots de televisão ou simplesmente a que dia saiam determinados jornais. E claro, hábitos de compra de jornais. E os resultados semestre após semestre eram os mesmos: ninguém comprava jornais e ninguém acertava um nome que fosse. Ignorância pura e simples e clara falta de hábito de leitura.

Convém por isso começar a pensar em dar a volta a isto. Sabiam por exemplo que os ingleses adotaram como leitura obrigatório nos liceus um livro sobre David Beckam? Todo o burro come palha o que é preciso é saber dar-lhe, é bem apropriado.

E como desabafo final, nada mais me custa do que ver gente de nariz colado nos quiosques ou a pedir um jornal ou uma revista que folheiam enquanto tomam o café da manhã. No final nem um jornal compram! Venha daí 2012 a ver se isto muda.

5 comentários:

  1. Caro autor do post, já pensou que muitos, hoje, não compram os jornais (que estão caros) porque os lêem, gratuitamente, na internet? É evidente que são só os títulos, as notícias mais chamativas, e algumas análises e comentários (poucos) mais ou menos aprofundados. Contudo, é quanto basta, pois o tempo é escasso, as ocupações e preocupações muitas, e não há tempo para "desbravar" os jornais - que, diga-se, também vêm perdendo qualidade e se encontram muito "partidarizados", daí que não se obtenha, por vezes, informação imparcial, séria e abalizada.
    Por outro lado, a possibilidade de obter informações noutras línguas (para quem as domina, claro...), através da net, parece-me que faz também diminuir a consulta aos jornais nacionais.
    E outros factores, porventura, estarão na origem da diminuição das tiragens...

    Já agora: os meus votos de um Ano novo com Paz e Alegria Cristã. As dificuldades económicas vão agravar-se, mas, se houver Amor na família, e Fé e Esperança em Deus, penso que resistiremos melhor às agruras que estão a assomar-se...

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  2. Se os Jornais fossem feitos por Jornalistas, se calhar a coisa resultaria. Mas como já nem Jornalistas há... é inevitável a emissão da certidão de óbito. Não há jornalistas?, perguntarás meu caro Carlos. Não há ou, melhor, os que ainda há não chegam. Muitos já trocaram a profissão por um prato de lentilhas, mesmo que isso implique serem criados de luxo... do poder. É claro que as Redacções, hoje espaços fabris de enchimento de textos de linha branca, estão cheias. Mas não são Jornalistas. São produtores de conteúdos, seja qual for a posição. De pé, de joelhos ou na horizontal...

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  3. Grande post, Carlos.
    Um excelente ano para ti e para a tua família.

    Zé mexia

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  4. Todos os jornais vão beber à Lusa as notícias do dia.
    Ficam os artigos de opinião para (tentar) fazer a diferença.
    Mas, desde que chegou o Nortadas, who cares?
    FRF

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  5. "a falta de qualidade dos jornais e consequentemente dos jornalistas. Mas se quisermos admitir que é verdadeira, poderiamos argumentar em sua defesa com o facto de haver abaixamento de vendas e de receitas e como tal não há dinheiro para recrutar jornalistas seniores e assim ficam os maçaricos saídos das universidades a engordar as redacções dos jornais. E dessa forma menos leitores haverá e chegaremos ao ponto que serão máquinas a encher páginas que ninguém lerá. A pescadinha de rabo na boca"

    Concordo com a primeira asserção. Mas não entronca com a seguinte; ao invés, os seniores são afastados pela chegada de patos-bravos. Não há memória nas Redacções. As chefias são uma lástima, Basta ver as televisões. Basta ver o online dos jornais - é esta a plataforma do futuro? Ridículo. Sobre os licenciados, então não é suposto virem preparados? Até fazem estágios curriculares e tudo... Não, nada substitui a tarimba no jornalismo. Mas como não há quem cuide dela...

    Muitos despedimentos na Imprensa começam pelos mais velhos, mais altos salários, mais experiência. Em quatro anos, muda-se uma Redacção completamente. Esvazia-se. Ficam os bimbos. Ou os dóceis, manipulados pelas chefias que ladram conforme o dono. Uma vergonha e não, não vai melhorar.

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