domingo, setembro 18, 2011

O preço



Há muito boa gente que entende urgente que a União Europeia se federalize ou que de alguma forma institua uma governação económica que lhe reforce a integração e assim lhe resolva globalmente os problemas de déficit, de dívida, de emprego e de desenvolvimento.

Tenho as maiores reservas sobre o fundado técnico de um tal raciocínio e de qualquer maneira suspeito que a maior parte dos seus arautos falam disso sem uma percepção clara da carne que colariam a esse esqueleto de ideia. No fundo, desconfio de que apenas vêm nisso uma maneira de somar ‘misérias’, de repartir erros e de aliviar aflitos, e que quanto ao resto depois se verá.

Mas admitamos que tecnicamente isso seria a boa solução, ou seja, admitamos que objectivamente a situação de estagnação europeia e de crise financeira e bancária com que a União se confronta exige que se abra essa porta e se relance uma dinâmica federadora no quadro dos Estados-Membros enquanto tais.

A questão que se colocaria seria então a de saber se existem condições subjectivas para essa transformação política. Ou seja, se as populações europeias, no seu conjunto, compreendem, aceitam e desejam esse futuro. Todos os indicadores apontam no sentido de que não o desejam e não o aceitam, talvez porque não o compreendam ou talvez porque o compreendam.

Se assim é, insistir em dançar no deserto para que chova parece-me ilusório e por isso mesmo perigoso, a não ser que regressemos definitivamente a um iluminismo autocrático e suspendamos a democracia como coisa desadequada aos tempos presentes. Esse preço, eu não o pago.

3 comentários:

  1. Não haverá aqui também um problema de liderança? Se houvesse um rumo, talvez as populações europeias aderissem.
    Se fosse possível, eu anteciparia as eleições em França e na Alemanha. É preciso tomar decisões fora da pressão do eleitoralismo interno.
    Um abraço
    JAC

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  2. O problema de liderança que referes, sendo patente, enquadra-se na insuficiência das condições subjectivas. Há uma outra pista que gostaria de considerar: tomando como assente que no actual quadro dos Estados-Membros é impossível chegar a uma plataforma de trabalho, porque não relançar as Regiões enquanto verdadeiros protagonistas do projecto europeu?

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  3. Mas poderá a Europa andar para trás?
    Suportará o €uro que ela se fique parada por mais tempo?
    As condições subjectivas, se perguntadas hoje, manter-se-iam?
    Um abraço,
    FRF

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