quarta-feira, junho 22, 2011

A lição da nossa “Esquerda”

Como já é normal nos nossos órgãos de comunicação social (e em alguns europeus), uma viragem política à (suposta) direita é algo que merece reflexão. Ou, em alguns casos, condenação. Outros inventam a penitência: “onde é que a esquerda falhou?”. São os mesmos que condenam as antigas ditaduras Chilena, Brasileira, Alemã, etc., mas que não condenam as existentes: China, Coreia do Norte, Cuba, etc. Para mencionar apenas as mais faladas. São os mesmos que condenam Israel quando ataca os “coitadinhos” do Hamas e se calam quando o Presidente da Síria mata o próprio povo, ao melhor estilo dos campos de concentração nazis. Se calhar não devia perder tempo a escrever estas linhas e explicar-lhes o básico, mas eu sou teimoso:

1. O 25 de Abril foi há 37 anos pelo que existem milhares de cidadãos que sempre viveram em Democracia. O “lobo mau” dos fascistas e da “pseudo-direita” não lhe diz nada;

2. Em Portugal não existe nenhum partido de direita ou de extrema-direita. Existe um partido do centro (CDS), dois partidos do centro-esquerda (PSD e PS), um partido de extrema-esquerda radical (BE) e um partido que parou no tempo: o PCP. Que se mantém coerente com o seu passado, mas que sofre da mesma miopia que mencionei no primeiro parágrafo;

3. No jornalismo português, para lá de uma formação (educacional e profissional) limitada - tal como é o resto do País - temos vários profissionais (até me custa dizer isto que ofende os que o são mesmo), antigos e actuais, que “têm de dizer” que são de esquerda. Fica bem. Mesmo sem saberem muito bem o que isso quer dizer. Para eles ser de esquerda é respeitar o “pensamento único” que, para lá de terem de actuar como referi (mais uma vez) no primeiro parágrafo, têm de defender o direito à diferença, o aborto, os direitos dos cidadãos (nada de deveres!), denunciar os abusos da autoridade (coitadinhos dos bandidos que têm sempre mil desculpas para os seus actos) e, claro, ser do Benfica;

4. Para muitos cidadãos que vivem em Democracia não existem desculpas para se viver em Ditadura! Independentemente do País;

5. Para muitos cidadãos que vivem em Democracia não devia existir censura quando discordamos da lei do aborto, quando discordamos dos casamentos homosexuais ou de outros temas fracturantes que o BE tanto defendeu, esquecendo-se dos graves problemas que o País atravessava. Discordamos, mas toleramos. Porque vivemos em Democracia;

6. Para muitos cidadãos que vivem em Democracia, jornalismo (como dizia uma campanha da revista Veja) é simples: “é ouvir as duas partes e desconfiar de ambas”.

É por isso que foram derrotados e vão continuar a ser. Apesar da vossa teimosia, meus concidadãos (da dita) esquerda, a Democracia “pula e avança”. Sejam coerentes. Sejam independentes. E, quiçá, passem a entender onde reside o vosso anunciado “fracasso”. A democracia não está em perigo quando quem vive nela faz as suas opções. A Democracia está em perigo quando não se toleram essas opções. A Democracia está em perigo quando se vive na incoerência ideológica.



Nuno Ortigão

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