terça-feira, abril 05, 2011

Uma nova república


Há uma notícia boa : o primeiro-ministro encomendou um reforço de tinta para as fotocopiadoras do seu gabinete, para que não lhe aconteça o que se passa nos tribunais, onde as impressoras secaram por falta de pagamento aos fornecedores. Esse afã significa que o próprio se convenceu de que não volta lá depois do 5 de Junho e vai daí pôs as secretárias a reunir seguros de vida pois sempre é melhor levar umas apólices, quais moedas de troca nos freeports que eventualmente ressuscitem.

Aquela votação norte-coreana de 90 e tal por cento que o incensou há dias como sucessor de si próprio à frente da carneirada do PS arrisca-se portanto a ter parido um rato, a não ser que tenha sido uma melga, daquelas que resistem mesmo quando enxotadas. A missa ou congresso vai ser divertida: “apoio ou demarco-me?”, “dou parte de doente ou apareço só ao princípio?”, “entro com o Seguro ou com o Costa?”, “será ele que vai substituir o Marcos nos CTT?”, “achas que a D. Constança aparece?”.

Tudo isto seria uma comédia se não fosse uma tragédia. Porque o busílis é que o país está falido, os bancos em bancarrota disfarçada, e a gente olha em volta e só vê cadáveres ambulantes a discutirem se se pede ajuda ou não, enquanto os abutres domésticos já voam baixo e de penca afiada para o despacho que lhes assegure o tal contrato antes do encerramento do botequim.

Neste deve e haver que os nossos governantes se preparam para deixar aos nossos bisnetos há um bem imaterial que desaparece nas entrelinhas (ou devo dizer nos quadradinhos?) do excell: o regime. Há quem lhe chame o ‘sistema’, ou ‘modus angelo’, ou ‘ser deputado e consul é fixe’, ou...ou...etc. Desaparecer é uma força de expressão: na verdade permanece, mas arrastando-se, a largar a baba da lesma até secar. Ora isso é uma maçada pois, como se sabe, há ainda uma parte dos nossos conterrâneos que julga que algo que ainda se mexe, vive.
“Então não ouviste o discurso do Presidente?”

Quanto tempo vamos ter de velar para podermos enterrar o regime? É que o calor já começa a apertar e seria conveniente, por razões de pura higiene e salubridade pública, incinerar o de cujus. E é urgente encontrar-lhe herdeiro, um outro regime, uma nova Constituição, uma democracia verdadeira, um sistema eleitoral decente, um país regionalizado, liberto da opressão centralista e arrangista. Gente que saiba dizer, se e quando for preciso, “Não pago!”. Gente que ponha a funcionar os tribunais para que os aldrabões que nos arquitectaram o funeral batam com os costados nas celas dos violadores. Não violaram a verdade, a decência e a nossa dignidade? Irra!

3 comentários:

  1. Muito bem escrito! Para continuar a abrir caminho!
    Pena que estejamos assim mas com mais clareza e trabalho de todos podemos melhorar, ou aspirar a coisas (bem) melhores.
    Abraço

    ResponderEliminar
  2. Um dos problemas está precisamente na frase "uma nova REPÚBLICA".
    A mudar que se mude radicalmente.

    Abraços

    ResponderEliminar
  3. Oh José, então ficamos só com "Uma Nova...", e depois logo se vê, que eu já estou por tudo.
    Abraço

    ResponderEliminar