sábado, fevereiro 26, 2011

Um vento manso

Aguarela e colagem de Raoul Hausmann "Dada Siegt" - 1920

A acção política é a mais nobre actividade social do ser humano. Contudo, parece ter-se transformado na mais torpe e suja actividade. Porquê?

Será porque a busca do compromisso a qualquer preço desvirtuou a manifestação límpida das opiniões e a assumpção clara das divergências?

Será porque a cobardia perante as consequências pessoais e os riscos de isolamento levam à esquizofrenia de não agir como se pensa, para afinal se passar a pensar como se age?

Será porque a experiência nesse mundo-cão sugere que o calculismo compensa e a dissimulação rende?

Será porque a ditadura dos números sugere que um crime se justifica se ao perpetrá-lo evitar outos 10?
Será porque se tranquiliza a consciência compartimentando-a em assoalhadas distintas onde se encontra sempre um quarto com sol a esquecer-nos os quartos escuros?
Será apenas por medo, por vaidade ou por ambição?

Alguém dizia há dias que a coragem tem de ser inteligente.
Eu suspeito que a coragem e a inteligência podem ser qualidades mas não são virtudes. Para o serem, terão de ser justas. Um celerado corajoso é um perigo, da mesma forma que um patife inteligente é uma ameaça.

Para a acção política ser justa tem de ser reflectida mas não pode ser calculada. Se apenas for atrevida e/ou esperta nunca será nobre mas depressa será vã. E as alegadas coragens para o amanhã, são a mais vil cobardia de hoje e de agora.

1 comentário:

  1. Bem pensado e muito bem dito.Porem ,importa tambem assinalar que os Berlusconi e tutti quanti politicos sao eleitos,reeleitos e ainda novamente eleitos,por muitos de entre nos.Ou seja, como tb sabes mas nao dizes ,o problema esta nos politicos como nos que se deixam angariar...Ontem ouvia Pacheco Pereira dizer-`nos`que Mubarak nao era necessariamente tao mau,ou dos piores, e que alias ele nao lera comentarios recentes nesse sentido nos jornais ,pelo que....

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