segunda-feira, junho 21, 2010

Postal de Barcelona (6)


A grande maioria dos prédios de Barcelona, sobretudo nas zonas mais centrais (e mais antigas), têm saguão. Alguns prédios, mais recentes, maiores, em zonas mais nobres têm um saguão interior, amplo, luminoso, que desemboca no próprio hall do prédio. Esses prédios, ao contrário do meu, normalmente têm elevador e porteira.

O prédio onde moro, além de não ter elevador, tem não um, mas dois saguões, um deles fechado para o exterior com uma espécie de telhado de plástico. Imagino que o objectivo desta “tampa” seja preparar os pobres habitantes (pobres) deste edifício para a devastação do aquecimento global, porque subir os 5 andares do prédio a pé sob um calor concentrado quase transformado em vapor é uma experiência verdadeiramente apocalíptica. O outro saguão, mais estreito (muito estreito, como podem ver pela imagem), não está fechado para o exterior, e por isso agradeço ao espírito caridoso que iluminou a mente da minha senhoria…é que é nesse que se cruzam as janelas das cozinhas e das casas de banho de todos os vizinhos.

Este pormenor arquitectónico já foi, e continua a ser, responsável por momentos hilariantes que marcarão para sempre a minha estadia nesta cidade e a convivência entre os companys deste piso. O Anselmo, cujo quarto tem janela para o grande saguão, tem que conciliar as suas horas de sono com as do vizinho, sob pena de não conseguir adormecer devido ao seu generoso ronco. O Gonçalo, que estuda em horas coincidentes com o horário espanhol das refeições, tem que usar duas ventoinhas para poder manter a janela do quarto fechada – a vizinha da frente gosta de fritos e empesta-lhe o ar com o cheiro (consta que já foram até encontrados salpicos de óleo nos seus cadernos…).

A seguir ao jantar, torna-se imperativo fechar a janela da casa de banho, pois o já cronometrado biorritmo do vizinho do lado é uma arma química que ataca qualquer digestão mais sensível. No outro dia o Tiago evitou por pouco um incêndio na casa ao lado – a vizinha estava a queimar as torradas e nós achámos por bem ir bater à porta dela a avisar. E eu, que inocentemente apanhava a roupa no terraço, ao virar a cabeça num ângulo de 45º, tive o (des)prazer de quase presenciar o momento em que o filho da vizinha compenetradamente mandava o seu fax matinal.
(continua ali)
Ana

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