quarta-feira, maio 26, 2010
Postal de Barcelona (3)
Ontem passei, mais uma vez, pela Casa Batlló.
Ia a caminho de uma entrevista de emprego e jurei a mim mesma que desta vez ia vestir inteiramente a pele do “inimigo” e não ia olhar para lá. Ia-me ser completamente indiferente, ia ser um passeio qualquer, numa rua qualquer de uma qualquer cidade. Ia passar pelo passeio, inundado de turistas, e dar encontrões a quem se pusesse à minha frente para tirar fotografias. Ia olhar com ar de piedade para os que esperassem na fila, especialmente para os últimos. Aos que estivessem sentados no banco, horas a fio, a perceber cada curva, cada pedrinha, ia deitar um olhar de “aposto que estás aí há horas, haja paciência, junta dinheiro e compra a porcaria do bilhete duma vez!”. Ia ser uma verdadeira barcelónica e desprezar todos os turistas que invadem a minha cidade.
Claro que não consegui.
Primeiro, porque aquela é, talvez, a esquina da minha predilecção nesta cidade.
Segundo, porque tenho plena convicção de que os turistas da Batlló são completamente diferentes dos turistas que invadem a minha praça e a (minha) Sagrada Família.
Terceiro, porque já estive, em diferentes ocasiões, no lugar de todos eles. Já fui dos que passam e levam encontrões dos locais quando tiram uma fotografia só p’ra poder acalmar a consciência e dizer que lá estiveram; dos que se sentam horas a fio no banco da frente de luvas a beber um chá ou de chinelos e água fresca na mão, só a olhar para cima até que lhes bata à porta o torcicolo; e dos que finalmente, sôfregos de desejo, fazem fila à porta com 12 € contados na mão para poder ver aquilo por dentro.
Ana
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