terça-feira, maio 04, 2010

O mito dos 3%

Um dos mais fascinantes equívocos da vida pública portuguesa tem sido a estória do objectivo de "reduzir o défice" para apenas 3% do PIB.

Aparentemente, por razões histórico-legislativas (isto é, por imposição de um tratado...) todos os responsáveis políticos assumiram, em nosso nome (e nós comemos), que o ideal era apenas devermos 3 euros por cada 100 que ganhássemos. Creio que, escrito assim, toda a gente percebe o absurdo da coisa. Qualquer um de nós sabe que se gastar mais três euros do que os que ganha, mais tarde ou mais cedo irá ter problemas... Sobretudo porque um dia não terá maneira de pagar os 3 euros que tenha vindo a acumular por cada 100 que ganhou - e isto assumindo que alguém lhos teria emprestado...

A verdade, contudo, é que se assumiu que se devêssemos apenas €3 por cada €100, tudo se resolveria magicamente.

Como é hoje dolorosamente óbvio, não é assim.

Podia ter sido diferente. Podia, mas não era a mesma coisa.

Para ser diferente era necessário que os tais €3 euros tivessem sido aplicados numa qualquer forma de aumentar a capacidade de ganhar dinheiro - que é como quem diz, aumentar os tais €100. Se, temporariamente, alguém gastar mais do que ganha para aumentar a sua capacidade de ganhar, essa pessoa estará a investir.

Se uma pessoa está a investir, naturalmente, quem lhe empresta terá mais disponibilidade para facultar os tais €3. Se, pelo contrário, essa pessoa está a gastar os €3 euros, em conforto, luxo ou deleite, naturalmente que os emprestadores terão mais dúvidas em emprestar.

E pronto, creio ter contribuído para explicar porque é que a culpa não é das "agências de notação", nem dos "mercados", nem muito menos dos "investidores".

O problema é que os nossos projectos não são propriamente para "aumentar" a capacidade de ganhar dinheiro. Sejam eles públicos (sobretudo) ou privados.

E por isso é que vamos ter de gastar menos e poupar mais. A economia é uma batata. Como a lógica...

Sem comentários:

Enviar um comentário