quinta-feira, julho 09, 2009

E a louça, senhores...?

No outro dia, li uma crónica do Miguel Esteves Cardoso em que ele falava da conclusão de um investigador estrangeiro que afirmou que o mal de Portugal são os portugueses. E perguntava a rir: e como se pode resolver esse problema? Hoje, que estou aqui à beira de uma apoplexia, afirmo eu, e não quero saber se tenho ou não competência científica para o fazer, que o mal de Portugal são mesmo os portugueses, e que enquanto o problema dos portugueses não se resolver, começa a ser melhor, para quem não se identifica com a cultura e genética dominante, emigrar. Eis o motivo de raiva: a minha mãe, que é como diziam os antigos, uma santa senhora, comovida e sensibilizada com a história de vida que lhe contou um seu jornaleiro da Póvoa de Lanhoso, que tinha um neto de pouca saúde, a precisar de um transplante de rim que nunca mais lho faziam, inscrito em listas de espera desde tenra idade, que não crescia, sem pai nem mãe que se importassem com ele, que precisava muito de quem intercedesse por ele mas não sabia a quem se dirigir na cidade, pediu-me ajuda, e eu, burra, que não sou santa, nem para lá caminho, resolvi falar a um médico amigo, que se disponibilizou a atendê-lo no serviço de urologia do Hospital de S. João, hoje de manhã. Então, lá fui eu, madrugadora e pouco jovial, a tempo da chegada do carro dos bombeiros da Póvoa, aviso o médico amigo que cheguei, instalo-me, mais avós e neto no corredor do hospital em frente ao serviço, e disponho-me a esperar e a perder a minha manhã de trabalho. Por volta das dez, vem a avó do neto dizer afoitamente que não sabia bem ao que vinha, que concerteza tinha havido confusão da mãezinha, porque o rapaz do que padecia não era bem rim, não senhor que esse problema já estava resolvido, que era mais fígado, isso sim é que lhe dava cuidados, e eu a ouvir estupefacta, mas a pensar, mais vale ser visto de qualquer das formas, vamos esperar. Entretanto, chegaram as onze e começaram as lamúrias, que havia na terra muito que fazer, que o homem do carro dos bombeiros não podia esperar tanto, que a filha tinha muita loiça para lavar e ela ali…Até que ao meio dia menos um quarto declararam-me que não podiam esperar mais. Iam embora. Se a minha mãe não se tinha esquecido de mandar o envelopinho para pagar o carro, que tinha dito que ajudava. Entreguei o envelopinho e vi-os ir. E fiquei mais meia hora no corredor do hospital para explicar ao médico amigo que afinal não era bem o rim, mas o fígado, e que a louça não podia esperar mais…

6 comentários:

  1. Extraordinário.
    Cara Paula, que lhe sirva de lição...

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  3. Mais vale ajudar na Conferência de S. Vicente de Paula...

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  4. A minha vizinha tem um filho. O filho é "meio-sobredotado". O meu anda na Banda de uma aldeia aqui a 8 km, passei a levar à Banda o da minha vizinha também. Mas nas férias o meu não vai à Banda porque não está cá e alguém se propôs levar o da minha vizinha nos dias em que o meu não vai, mas a minha vizinha não quer «para não gastar dinheiro no telemóvel.» A frequência da Banda é gratuita e até fornecem os instrumentos. A minha vizinha fuma SG gigante.

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  5. Pois, pró ano será a bexiga!
    Constato, todavia, que os "médicos amigos" do Norte fazem as pessoas esperar uma eternidade! E isso não se coaduna com as obrigações da vida do campo! Que falta de sensibilidade!

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  6. Olarilolé!, nas palavras de um nosso ilustre contribuinte, para estas pa´ginas (diz-se pa´ginas, não é?) do nortadas...

    Havias de ter lembrado à senhora quanto custam as tuas horas... a ver se ela deixava um envelopinho, para "ajudar"!!!

    Ainda assim, na contabilidade final, o que conta é o que fizeste, mais a tua mãezinha; a senhora, certamente, também terá as contas dela...

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