terça-feira, março 10, 2009

O anfitrião

Há um artigo de Luís Fernando Veríssimo, publicado no "Expresso" no Verão passado, que é muito útil, e que convém ter sempre presente nestes dias em que se aproxima a vinda do presidente de Angola. Esse artigo ensina a usar com prudência o termo "anfitrião". É este o texto do artigo:


"Anfitrião", não sei se você sabe, vem de Amphitryon, da mitologia grega. Amphitryon casou-se com Alcmena, mas, antes que o casamento fosse consumado, Zeus, que podia tudo, disfarçou-se de Amphitryon e papou a Alcmena primeiro. Dessa união nasceu Heracles, que o bom Amphitryon criou como um filho, mesmo desconfiando dos atributos semidivinos que o garoto demonstrava desde o berço. Amphitryon ficaria na História como um corno exemplar se o mito não tivesse sido adaptado para o teatro por Moliére, no século XVIII. Um dia, o Amphitryon de Moliére chega em casa e encontra outro deus, Júpiter, também disfarçado de Amphitryon, na cama com Alcmena.

Grande bafatá, é ou não é, e reúnem-se os nobres para decidir qual dos dois é o verdadeiro marido de Alcmena. Júpiter convida todos os presentes para jantar, enquanto não chegam a uma conclusão. Um empregado de Amphitryon, Sósia (que na verdade é outro deus, Mercúrio, disfarçado), declara que isso acaba com qualquer dúvida, pois o verdadeiro Amphitryon é o Amphitryon que dá jantares. E desde então "anfitrião" ficou sendo o nome de quem recebe em sua casa. Mas, cuidado. Ao ouvir alguém ser chamado de "conhecido anfitrião", procure saber se é no sentido pré ou pós-Moliére.

2 comentários:

  1. douro disse:
    Muito bem apanhado!

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  2. João, excelente! Não encontrará, por acaso, semelhante silogismo na mitologia grega que se possa aplicar a "filho da mãe"?

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