Via-os, os meus alunos, a subirem e a descerem as escadas a olhar para baixo, concentrados, sem dizer nada, alheados de tudo.
O contínuo que encontrei no rés do chão, e que me acompanhou até ao primeiro andar, não ouviu nada do que lhe disse, pensativo que estava, a olhar para o chão, o olhar preso nos degraus que ia subindo, um a um.
Até que chegou cá acima, e perguntou: o último conta? Perdão, disse eu, como? Conta, como? Conta? repetiu ele. O último degrau conta, quando se contam os degraus de uma escada? Interessante a pergunta, pensei, já me tinha ocorrido quando tinha dez ou onze anos, mas depois deixou de me interessar.
Respondi que não sabia, que talvez, o último degrau sempre era um degrau igual a todos os outros, não havia razão para o excluir, parecia-me…Segui caminho a pensar que se faz filosofia a qualquer hora do dia, mas que até não era bom dia para isso porque estava cheia de trabalho, e não pensei mais no assunto, até que depois de almoço, um aluno me disse, também do alto do primeiro andar onde estava, quando eu subia de novo as escadas: Boa tarde! Sabe que são cerca de dois mil e tal? E eu, desconfiada de que me estavam outra vez a falar de degraus, perguntei: dois mil e tal, quê? Degraus, disse ele….
Fugi para o gabinete, num vislumbre de loucura, e por lá fiquei a tarde inteira. Quando saí da Faculdade, à porta, num placard, estava um aviso redondo, recortado, azul-escuro e branco que dizia: “DIZ QUANTOS DEGRAUS INTERNOS HÁ NESTE EDIFICIO E GANHA UM MAC….”
Paula,obrigada! Estava estoirada, com uma péssima disposição e pusets-me a chorar a rir.
ResponderEliminarBjs
Assunção