Há uma ideia aterradora que percorre a mente de alguns eugénicos que não cessa de me surpreender: deve ser recusado ou dificultado o tratamento médico no SNS às pessoas que adoptem ou tenham adoptado comportamentos tidos por não saudáveis, o que quer que isso seja.
Esta doutrina é, evidentemente, absurda e esotérica mas é também, salvo melhor opinião, totalmente inconstitucional.
Já ouvi muita gente simples defender este disparate mas custou-me ver Pacheco Pereira aderir serenamente à causa. Decerto não reflectiu muito no assunto. À primeira vista, não querendo ser injusto, Pacheco Pereira não aparenta levar uma vida saudável. Diria até, em seu benefício, que dá ar de ter uma vida extremamente sedentária e suspeito que esgote imenso os olhos a ler os livros e textos que, com inveja minha, abundantemente consome. Tenho para mim que o facto de Pacheco Pereira não fazer jogging - o que compreendo pois os exemplos não são os melhores -, nem presumivelmente tratar com aprumo e parcimónia a sua visão, não deverá constituir motivo para não ser atendido num hospital público, com a diligência adequada, por um especialista de cardiologia ou de oftalmologia.
Pelo caminho que as coisas levam, qualquer dia teremos o Governo a emitir a Cartilha do Bom Português Saudável, a qual definirá exaustivamente e com rigor higiénico os preceitos de vida obrigatórios cujo incumprimento terá como consequência o banimento do mau cidadão, que se verá obrigado a recorrer a uma qualquer clínica de Badajoz reconvertida.
Os hospitais terão via verde para a realização de abortos ou para a colocação de bandas gástricas, deixando à porta quem não apresentar um certificado passado pelo Ministro Correia de Campos que ateste que o utente pratica pilatus, nunca comeu rojões, não é sexualmente activo nem nunca fumou um puro. Estranho mundo este onde querem viver.
Nota: esta posta é uma caricatura de posta.
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