A reportagem da Única desta semana sobre a noite das crianças chocou-me. Desde logo, pelo relato em si (“…Passam jarros de sangria, vinho branco e cervejas, as bebidas habituais nestes jantares de anos. Ementa: qualquer coisa, desde que regada a álcool. Sobremesa: shots nas Janelas Verdes (…) “são claramente as caras mais novas que podem ser vistas no interior de uma discoteca, com idades que andarão pelos 12, 13, 14 anos...” (…) ”jovens com caras e alturas que dificilmente passariam no controle dos 16 anos fazem charro atrás de charro”), pelo efeito que tudo isto tem que ter no desenvolvimento de uma criança, e pela banalização de sentimentos e de escolhas que traz consigo (“aliás, hoje já quase não bebo shots. Prefiro whisky e cerveja. E de whisky também já estou um bocado farta” (…) “As filhas contam-lhe com naturalidade, que as amigas apanham bebedeiras de caixão à cova e se ganzam logo de manhã”(…) “Tenho imensos amigos que se lembram de ter curtido com alguém na discoteca, mas não se lembram do nome ou da cara. É normal.”), pela atitude dos pais (“Chego à hora que quero”, conta. Isto significa 6-7 da manhã, segundo a mãe. “Sei que a Carolina fuma. E bebe. Tudo, inclusive bebidas que eu nunca provei. Não é que eu encare com normalidade, mas pouco posso fazer além de lhe dizer que faz mal…”, “Sei que ela fuma haxixe regularmente”) e pela atitude do Estado que não nos deixa a nós, adultos, consumir uma alheira, ou uma bola de Berlim com creme, mas que permite a crianças o consumo de álcool em doses maciças e a baixo preço. Onde está a polícia e a ASAE para selar estes bares, para impedir a venda de shots a 1 euro (“preço do shot: 1 euro. Ao lado, a imperial custa 1 euro; ao lado ainda, um cartão de 8 shots custa 9,5 euros), como é possível que se saiba de antemão dentro dos bares que vai haver uma rusga ao local a tempo de garantir a evacuação dos menores que lá se encontram? É fácil dizer que a culpa é dos pais – e será de alguns, seguramente – mas não é dever principal do Estado obrigar a cumprir a lei, aliviando também a pressão que existe sobre tantos pais razoáveis que se esforçam por educar devidamente os seus filhos, e que se confrontam todos os fins de semana com o pedido insistente para sair porque os outros saem, e que assim ficam sem amigos, e blá, blá, blá, na conversa que deve existir desde que há crianças e adultos no mundo?
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