quinta-feira, novembro 15, 2007

A gripe

Apesar do bom tempo anunciado pelo Mexia, sinto-me engripado. Aqui vai o meu estado:

Pachos na testa, terço na mão,
Uma botija, chá de limão,
Zaragatoas, vinho com mel,
Três aspirinas, creme na pele
Grito de medo, chamo a mulher.
Ai Luísa que vou morrer.
Mede-me a febre, olha-me a goela,
Cala os miúdos, fecha a janela,
Não quero canja, nem a salada,
Ai Luísa, Luísa, não vales nada.
Se tu sonhasses como me sinto,
Já vejo a morte nunca te minto,
Já vejo o inferno, chamas, diabos,
anjos estranhos, cornos e rabos,
Vejo demónios nas suas danças
Tigres sem listras, bodes sem tranças
Choros de coruja, risos de grilo
Ai Luísa, Luísa, fica comigo
Não é o pingo de uma torneira,
Põe-me a Santinha à cabeceira,
Compõe-me a colcha,
Fala ao prior,
Pousa o Jesus no cobertor.
Chama o Doutor, passa a chamada, a
i Luísa, Luísa nem dás por nada.
Faz-me tisanas e pão de ló,
Não te levantes que fico só,
Aqui sozinho a apodrecer,
Ai mulher, mulher que vou morrer.


Adaptado de um poema de António Lobo Antunes (Sátira aos HOMENS quando estão com gripe), a quem gostava de dar um abraço

1 comentário:

  1. Tanto quanto me explicaram, este poema foi feito era para ser musicado pelo Vitorino, mas não chegou a ser. É, de qualquer forma, um grande poema. Lurdes na versão original, creio.

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