segunda-feira, julho 16, 2007

Esquizofrenia eleitoral

Nas eleições para a autarquia de Lisboa abriram-se, como pústulas, os sintomas de crise do nosso sistema eleitoral.
As candidaturas independentes vieram mesmo para ficar. Tal facto não sendo um mal em sim mesmo, é um sintoma profundo, do mal estar da Democracia de Partidos, o pior sistema político do Mundo, com excepção de todos os outros…! Winston Churchill dixit.
A parte perniciosa das candidaturas a Lisboa, não vem tanto da parte de Roseta mas de Carmona Rodrigues. Esse cometa que passará sem deixar rasto, fez mossa e embora reduzindo-se a um efémero fenómeno, é o candidato dos tempos que correm. Representa a candidatura Big Brother, que se auto intitula de virtuosa, injustiçada, verdadeira, que não conhece ideologia que não a fidelidade aos alfacinhas. A demagogia no seu melhor.
Mas se o sucesso lhe bateu à parta - e dúvidas não há de que as candidaturas independentes foram as grandes vencedoras da noite – tal facto só pode ser assacado aos protagonistas dos grandes partidos institucionais.
E se houve eleições em que aquilo que estava em jogo ia muito além das eleições e da Câmara de Lisboa, ela própria, foram estas.
António Costa representou a candidatura da prateleira dourada – faz menos sombra a Sócrates na Câmara do que no Governo.
Fernando Negrão foi uma candidatura de recurso, não só porque aceitou uma tarefa que ninguém invejaria como sabia que a sua era uma missão impossível.
Telmo Correia fez o dois em um: uma candidatura autárquica e umas directas alargadas a Paulo Portas.
Ou seja, as candidaturas assumiam-se não pelo seu valor intrínseco para a cidade, mas pelo seu valor táctico, no tabuleiro do xadrez político partidário. O que inquina a boa percepção, por parte do eleitorado, daquilo que, realmente, está em causa. O tacticismo político funciona em circuito fechado, é uma gíria, uma linguagem cifrada e hermética, só perceptível por quem pertence ao meio. A que corresponde uma reflexa surdez aos estímulos do mundo exterior.
Tudo adensado, resulta numa desmultiplicação de motivações, de estímulos, muitas vezes de sinal contrário, que reflectem um síndrome psicopático do sistema…!
A resposta foi clara: mais do que o castigo às forças políticas tradicionais, mais do que o refúgio em candidaturas outsiders, foi, isso sim, a DESERÇÃO.

3 comentários:

  1. O tacticismo político funciona em circuito fechado, é uma gíria, uma linguagem cifrada e hermética, só perceptível por quem pertence ao meio. A que corresponde uma reflexa surdez aos estímulos do mundo exterior.

    Meu caro,
    Disse tudo!
    E disse-o melhor do que eu seria capaz de o dizer.

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  2. Já não existem dúvidas que estas eleições foram benéficas a vários níveis. Até o Daniel que eu julgava desertor veio cheio de sabedoria. Como de costume.

    Um abraço meu amigo
    carlos Furtado

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  3. O "grande vencedor" destas eleições foi... o "desertor", o que se esteve nas tintas para a democracia de contornos corruptófilos e de lugares comuns com sabor a déja vu...

    Carmona foi o populismo e a autovitimização a fazer chantagem sobre algum eleitorado menos atento. Roseta foi a coragem de assumir a ruptura e dizer "basta!" à partidocracia. Superou as máquinas partidárias (CDU, CDS/PP. BE) e mostrou que não está ali para vender a alma ao diabo (sistema).

    Telmo Correia foi vítima da síndrome Zézinha (MJNP) e da fragmentação resultante da vitória de Pirro (Portas).

    Enfim, era útil extraír ilações sobretudo da ineficácia de algumas máquinas partidárias em contraste com dois franco-atiradores de sucesso.

    Para mim HR é bem mais credível que CR, mas ambos colheram frutos do discurso anti-partidos.

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