segunda-feira, julho 23, 2007

As eleições de Lisboa e a reflexão política em Portugal...

Fantástico! Cheguei agora ao Porto, abro o Nortadas e pasmo! Nem um comentário aos resultados do Conselho Nacional do CDS.
Não acredito que a onda do politicamente correcto aqui tenha chegado, pelo que a explicação terá mais a ver com o período de férias em que muitos já estamos ou com a realidade de um fim-de-semana retemperador, longe do écran do PC e sem pachorra para carregar o portátil.

Quando ouvi dizer que o Presidente do Partido estava em período de reflexão sobre as condições do exercício da actividade política em Portugal, acreditei que daí iriam sair conclusões profundas, orientadoras de uma praxis futura que marcaria indelevelmente a vida política nacional nos próximos dois anos.

Esperava que essas condições fossem exaustivamente dissecadas no Conselho Nacional, e que este, orgão máximo entre Congressos, apontasse a via a seguir perante a situação catastrófica em que o Partido se encontra, revelada pelas eleições para a Câmara de Lisboa. Esperava, sobretudo, que fossem retiradas ilações, como fora prometido antes das eleições.

Em primeiro lugar, porque o Dr. Paulo Portas, ao achar que o País se confina a Lisboa - o resto, como de costume, é paisagem - entendeu que o resultado a alcançar seria um verdadeiro teste nacional, não só à sua liderança recente, como ao próprio Governo, elevando deliberada e narcisisticamente a fasquia, como quem diz: "ou eu ou o caos".
Ao fazê-lo, regressado em circunstâncias, no mínimo, deselegantes, e após dois meses à frente do Partido, nos quais não conseguiu criar aquela prometida onda avassaladora em direcção à formação de um grande partido de centro-direita, canibalizando grossa fatia do PSD, Paulo Portas revelou uma dose elevada de insegurança, pois mostrou que pressentia que o seu pouco ortodoxo regresso necessitava de uma confirmação mais alargada, fora do círculo interno e restrito que o promovera, e do próprio Partido.

Em segundo lugar, porque a estratégia para Lisboa tinha sido da inteira responsabilidade do Dr. Paulo Portas, desde a chicana de Óbidos que levara Maria José Nogueira Pinto à saída do partido, até à escolha de Telmo Correia como candidato, acessoriamente secundado por um conjunto de notáveis que representavam o que de melhor, pensava, o partido tinha para apresentar em Lisboa. Infelizmente, logo na apresentação da candidatura no Congresso de Torres Novas, Telmo cometeu o primeiro, mas determinante, deslize: declarou-se candidato a Vereador e não, como devia, a Presidente da Câmara de Lisboa, o que é imperdoável, quer sob o ponto de vista de marketing, quer sob o ponto de vista político, ao limitar drasticamente as ambições de um Partido que já governou Lisboa com um homem do calibre do Eng. Cruz Abecassis.

Em terceiro lugar, porque não percebeu, ou não quis perceber, que o que estava em jogo era uma mera eleição local, perfeitamente balcanizada, com todos os perigos que isso acarretava, e tentar transformá-la em qualquer outra coisa, era correr um risco absolutamente desnecessário, ainda para mais num momento em que qualquer observador mais atento pressentia no Partido uma fragilidade muito grande decorrente do próprio processo e necessidade de legitimização do presidente do CDS.
Para além disso, Paulo Portas nem sequer tinha conseguido, durante os dois meses que levava na presidência, utilizar o palco privilegiado da Assembleia da República para cavalgar de cátedra a ideia mobilizadora do grande partido de centro-direita, afrontando o Governo e liderando realmente a Oposição, através da construção de uma alternativa que se afirmasse como tal.

Afinal, a montanha pariu um rato! Fica tudo na mesma e a culpa é do segredo de Justiça!
O Dr. Paulo Portas não assumiu as responsabilidades, que, agora sim, teve no descalabro eleitoral que o Partido sofreu em Lisboa. Resumindo, abandonou quando não devia e, quando a sua estratégia falhou, "aos costumes disse...nada"!
Pior do que isso, ainda não se percebeu quais são essas tão difíceis condições de exercício da actividade política na actual conjuntura, e que limitações se estarão a impôr ao Dr. Paulo Portas no seu tão esforçado - e apetecido - exercício. Ainda não se percebeu porque é que, se a total responsabilidade pelo insucesso é sua, se estas eleições foram realmente um teste às suas propostas políticas, se constata que são cada vez mais escassas as condições de exercício de actividade política em Portugal, ainda não se percebeu, dizia, o que é que se propõe continuar a fazer e porque não vai até aos Estados Unidos fazer aquilo tinha anunciado quando se demitiu da presidência do Partido, após umas eleições em que conseguiu um resultado de maneira alguma deslustrante.
Parece-me que, agora, ninguém lho levava a mal.

4 comentários:

  1. Um político não se perde por prometer o que não pode pode cumprir. Um político não se perde por aqui ou ali mudar de rumo. Um político não se perde por não dominar os dossiers. Um político perde-se, quando se torna patético.
    Paulo Portas, com a sua esfarrapada desculpa das condições de fazer política que ele próprio criou quando era director de "O Independente", está perdido.
    Compete aos militantes do CDS decidirem se querem perder o partido com ele.

    ResponderEliminar
  2. Excelente posta. Desassombrada e politicamente "incorrecta". Só fala assim quem não tem que bajular o grande líder

    ResponderEliminar
  3. www.agonia-final.blogspot.com

    ResponderEliminar
  4. Só fala assim quem não tem que bajular o grande líder

    Caro ACF,
    Fala como se a regra dos militantes de um partido político fosse a necessidade de bajular os grandes líderes.
    Não sou militante de partido nenhum, mas fico muito preocupado que possa ser verdade o que afirma.

    ResponderEliminar