segunda-feira, julho 16, 2007

Afinal era mesmo só montra. Não tinha armazém!

O resultado conseguido ontem pelo CDS-PP nas eleições autárquicas intercalares de Lisboa é lamentável. Tive, como é sabido, especiais responsabilidades na área autárquica, e por isso encontro-me especialmente triste. Afastado, apesar disso, sinto que não posso deixar de tecer alguns comentários aos resultados de ontem, depois de um longo silêncio.

Lamento que a actual liderança do Partido tenha feito tábua rasa de um trabalho de organização, de apoio aos autarcas aos candidatos, aos ex e futuros candidatos, enfim aos temas autárquicos. Todo esse esforço parece ter ficado congelado no tempo. Procurei que esse caminho que adivinhava fosse evitado. Por isso, também por isso, usei da palavra como o fiz no primeiro dia do último Congresso do CDS. Em vão!

Lamento que o espírito de unidade apregoado não tenha sido praticado. Em Lisboa como na Madeira os candidatos foram os anteriormente derrotados e agora de novo derrotados.

Sinto mesmo muito que tenhamos perdido uma grande oportunidade quando tanto trabalho, tanto esforço e dedicação fora empregue com os autarcas a nível nacional e, no que a Lisboa respeita, com e pela Dra Maria José Nogueira Pinto. Desta vez, recordo, as indicações que ao tempo tínhamos eram favoráveis - dois ou três Vereadores. Desta feita, sublinho, a direcção não teve oposição interna e muito bem!

Quem saiu a fingir que saíra, quem o fez quando e como o fez, quem regressou no momento e na forma como todos nos recordamos foi castigado pelos eleitores e também pelos militantes. Sim, os eleitores cobraram tudo isso com a arma que têm, pelos votos e através da abstenção!

Perdemos mais de metade dos votos!

Baixámos de 16723 para 7258 votos! Caímos de 5,9% para 3,7%. Ficámos, ao que me foi dito, atrás do MRPP (Marxista - Leninista a sério e contra o partido Cunhalista) em freguesias como Ajuda, Marvila, Sto Estevão e Socorro. Já antes nos preocupara a nível nacional o Bloco(a esquerda caviar arvorada em superioridade moral e política). Tanto que o lider ao tempo, após as últimas legislativas, saiu nesse fim de ciclo!

Há já quem diga que agora somos o maior dos partidos insignificantes. A esquerda já começa a referir este dia em que o CDS passou a ser irrelevante. Psicologicamente esperemos que a mensagem, falsa, não passe pois poderá ser catastrófica. Tudo isto numas eleições em que tínhamos obra feita, não havia a pressão do voto útil, tínhamos pessoas com conhecimento da “casa”, em posições de destaque, e o “odioso” estava na outra direita, em Costa e, assim, nos outros candidatos.

Mas perdemos. Foi essa a marca que ficou e ainda não chegámos aos 100 dias da actual liderança que vinha cheia de conhecimento, capacidade e de poder.

Afinal era mesmo só montra. Não tinha armazém!

Perdemos representatividade numa CM que já foi “nossa”, talvez na última oportunidade em que, participando no arco da governação, podíamos mostrar ideias, projecto e obra beneficiando da partilha do poder. Sim, porque se agora vingar o pacto do bloco central teremos apenas, no futuro, executivos monocolores.

O CDS que estava em crescimento, numa linha de alargamento, tinha um claro e verdadeiro projecto, mas pode ter entrado num caminho sem retorno.

Já se começam a ouvir comentários jocosos dando conta de que não se percebia qual era a agenda focada, mas que os CDS’S continuam a ser a charneira no executivo com Feist. E não se diga que as suspeições, intrigas e manobras de diversão, maldosas, concordo, nos afectaram especialmente quando, no caso dos independentes "Carmona", estes, com tantas polémicas que os envolviam, sem aparelho, chegaram ao segundo lugar.

Não podemos permitir brincadeiras com o património democrata–cristão. Há que refletir, auscultar, ficar e trabalhar! O mandato conferido em directas tem que ser cumprido!

As responsabilidades têm que ser assumidas. De acordo! Principalmente ao nível concelhio e distrital, de organização autárquica. É certo!

Mas acima de tudo temos que pensar todos.

Não haja ilusões de que um CN, restrito, mais a mais em face da sua actual composição, necessariamente aclamatório e desculpabilizante, pode consolar os responsáveis.

O problema é que os militantes e eleitores não se contentam com soluções meramente formais. Há que saber arrepiar caminho e concluirmos todos que caminho queremos para o CDS.

8 comentários:

  1. O CDS não acabou, de todo... mas levou um revés que tem de ser ponderado.

    Recuso-me a acreditar que Lisboa tem quase tantos MRPP's do que democratas cristãos, mas acredito que os existentes não queiram votar na dupla Telmo/Portas.

    Ninguém conseguiu explicar porque é que MJNP saiu do partido, nem ninguém conseguiu explicar porque é que, com as sondagens existentes, o líder do partido não avançou para tentar salvaguardar algum eleitorado...

    Aliás, nos tempos que correm há muita coisa por explicar no CDS:

    Porque é que Portas voltou se o partido está agora mais desunido do que nunca...?

    Porque é que Portas voltou se os resultados eleitorais são piores do que eram...?

    Porque é que deitaram fora a estrututa autárquica existente e não construiram nenhuma entretanto??

    Onde é que anda o actual coordenador autárquico do CDS (aliás, quem é o actual coordenador autárquico)...?

    Porque é que os responsáveis locais concelhios e distritais ainda não puseram o lugar à disposição...??

    Enfim...

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  2. Muito lúcido, muito oportuno e muito verdadeiro. Como sempre.

    LPC

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  3. As interpretações e conclusões a retirar destas eleições não devem ser a "quente", mas sim merecem uma profunda busca de linhas de raciocinio que possam explicar o sucedido.
    1º o cds como sempre sofre e sofreu com o chamado "voto util", ou seja os seus votantes e mesmo eleitores habituais votam em quem mais próximo lhes pareça que possa ganhar
    2º o "treinador pegou na equipa a mais de meio do campeonato" ( Paulo P. ) pelo que não se lhe podem assacar muitas responsabilidades
    3º O mesmo teve em circunstâncias dificeis cerca de 10%? em eleições em Lisboa quando foi eleito o Santana..
    4º Não se pode dizer que um lider eleito com 75% dos militantes em voto directo não reuna união no partido? ( quantos lideres foram eleitos no cds e outros partidos em eleições similares com essa percentagem? )
    5º O cds tal como o psd foi altamente penalizado por ter deixado - ou melhor levado á queda da câmara de lisboa - uma queda desnecessária e mesmo ridicula.
    6º tal como há alguns anos atrás foi dito a este meu ilustre amigo, calma nas hostes centristas, pois ainda há muito campeonato para jogar, muitas eleições para disputar, e o cds tem um enorme potêncial de votos ( na minha opinião entre os 10 a 15% como minimo ) a poder conquistar, pelo que não há que desanimar, mas sim ir para a frente - e baixem os lenços brancos pois o campeonato só agora começou ( ou recomeçou )e o futuro reserva ao cds inesperadas surpresas ( nomeadamente coligação de governo )
    ...
    Guardem esta e depois direi daqui a dois anos: "é sempre bom alembrare..."

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  4. Decisivamente e com uma leitura cuidada dos resultados, penso que se terá de materializar a resposta da sociedade civil a estas máquinas partidárias de seriedade duvidosa, que apelam ao proveito próprio e que de doutrina raramente ouviram falar.

    Tanta e tão boa gente anónima, cidadãos do mais elevado gabarito intelectual e humano, encontram-se estarrecidos com o nosso panorama sócio-político. E alguns até estão dispostos a contribuir.

    Para quando, até quando...

    lmgg

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  5. "Ficámos, ao que me foi dito, atrás do MRPP (Marxista - Leninista a sério e contra o partido Cunhalista) em freguesias como Ajuda, Marvila, Sto Estevão e Socorro."
    É mesmo caso para dizer: Socorro!
    Antes de tudo o mais, penso que será imperioso questionarmos o que pretende a actual direcção (de onde T. Correia já se demitiu, e bem!) para o partido. Pela campanha a que assisti em Lisboa (ou falta dela) eu pergunto-me se eles não quererão dar cabo mesmo disto...

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  6. E, já agora, mudemos a forma como se faz o marketing político, as campanhas deveriam ser colocadas na rua por uma entidade oficial que recorresse a técnicos da área, que pusesse todos os candidatos, os seus programas e as suas equipas em pé de igualdade.

    Acabávamos facilmente com o poderio dos mais instalados e com "apoios" obscuros que têm que ser retribuídos.

    Só assim haveria alguma transparência e os novos que chegassem, poderiam ir a votos pelas mais-valias apresentadas e não pela quantidade de canetas, aventais, electrodomésticos, out-doors gigantescos e afins.

    Alguém tem dúvidas?

    lmgg

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  7. quem se afastou sobranceiramente da cartilha nacional do conjunto de ideias do autarca democrata cristão só soube oferecer uma confusão de propostas gastas e sem decisivo acolhimento, como aquela contra os graffities, das vassouras e dos apanhadores o que é que esperava? Ter mais votos que a soma dos brancos e nulos? Nem isso se conseguiu!

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  8. Como sempre, uma análise cristalina, que deixa pouco espaço ao comentário...para reflectir...

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