Telejornais

Se não fosse pela natural preocupação com um país sem rumo, e sem dirigentes capazes de demonstrar algum nível, quer no que dizem, quer na forma como vão procedendo, tinha-me divertido a valer com o telejornal de ontem à noite. O must foi seguramente o discurso de Mário Lino, animadissimo, a usar exemplos que metiam corpos com cancro mas com os membros todos a funcionar, e corpos tortos mas saudáveis, a afirmar gesticulante e convicto que o sul do Tejo é um deserto sem gente, sem hospitais, e sem nada, seguido da consequente entrevista à pacata gente do Sul do Tejo a dizer que não senhor, que ali até se vivia bem, e dava para o gasto, mas também foi muito, mas mesmo muito bom, o novo argumento a favor da OTA, anunciado em tiras vermelhas no rodapé do televisor, e seriamente defendido e sustentado por Almeida Santos, de que um Portugal moderno não pode ter um aeroporto ao Sul do Tejo porque a qualquer hora vem aí um ataque terrorista e ficamos sem pontes e sem forma de chegar ao aeroporto…, isto tudo em directo de uma cidade que tem doze candidatos à Câmara, um dos quais o presidente cessante, e só não tem mais um porque Santana Lopes declarou à frente da boca do Túnel do Marquês num cenário verdejante que não se ia candidatar... O telejornal fechou com a análise do caso Charrua – que não tem piada nenhuma – e que me parece um exemplo chocante da natureza periclitante da liberdade mesmo quando a temos por assegurada, de perseguição por um delito de opinião, mas acima de tudo do carácter mesquinho e baixo das pessoas que são capazes de denunciar conversas privadas e colegas de trabalho.
P.S. Ficou-se a dever ao inesquecível discurso de Mário Lino uma conquista irreversível no léxico mais in deste Verão, e um passo gigantesco na aproximação à cultura francesa que andava um bocado esquecida. Acreditem! :))) “Jamais” seremos os mesmos depois da reinvenção da palavra “Jamais”!